Título: Estratégia também avalia contaminação em produtos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 10/10/2010, Vida, p. A30

Órgãos de criminalística ainda utilizam pouco a ferramenta, mas cursos comprovam interesse crescente pela área

Janyra Oliveira da Costa, do Instituto de Criminalística Carlos Éboli, no Rio, foi provavelmente a primeira perita a utilizar a entomologia forense no cotidiano das investigações. Ela afirma que boa parte dos casos que chegam hoje ao seu laboratório não está relacionada a crimes contra a vida: normalmente, são laudos para consumidores indignados com o que encontraram nos produtos que compraram.

Lagartas em barras de cereal e de chocolate constituem a reclamação mais comum. Na maioria das vezes, o alimento foi processado com ovos de mariposa. Eles podem eclodir e as pequenas lagartas encontram alimento farto dentro da embalagem onde foram encerradas.

A entomologia forense oferece subsídios para definir de quem é a culpa: do produtor, da indústria, do comerciante ou do próprio consumidor. Tudo depende de quando o alimento foi contaminado, pergunta que os peritos tentam responder. A técnica também costuma ser usada para emitir laudos sobre danos em imóveis causados por infestação de cupins ou outros insetos.

Fauna. José Albertino Rafael, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), costuma deixar porcos mortos na floresta para estudar a fauna necrófaga. Suínos são um bom modelo de estudo, pois reproduzem as dimensões de um homem.

Com o biólogo Alexandre Ururahy-Rodrigues, Rafael mostrou que a ação de besouros do gênero Coprophanaeus pode confundir legistas: eles alteram a posição original da carcaça e realizam incisões no corpo morto.

O pesquisador do Inpa aponta que ainda não conseguiu estabelecer um acordo de cooperação com a polícia amazonense. Enquanto isso, ele reúne dados sobre o comportamento dos insetos necrófagos. O trabalho já serviu, por exemplo, como fonte de informação para a investigação sobre o assassinato de garimpeiros em Rondônia (mais informações nesta página).

Lucila Carvalho, da Comissão de Estudos sobre Perícias Forenses da OAB-SP, criou um banco de dados online que deverá reunir informações sobre espécies e hábitos de insetos necrófagos de todo o Brasil. A ferramenta é essencial para o trabalho dos peritos. Patrícia Thyssen, da Unicamp, também trabalha em uma plataforma computacional para identificação dos insetos.

Cientistas entrevistados pelo Estado afirmam que tem sido cada vez mais comum receber convites para lecionar cursos sobre entomologia nas academias de polícia. Um levantamento realizado em 2008 mostrou que havia cerca de 20 cientistas na área e dezenas de peritos já tinham passado pelos cursos.

Efeito CSI. José Roberto Pujol Luz aponta que, em breve, começará um curso de pós-graduação em Ciências Forenses na Universidade de Brasília (UnB), com apoio do Ministério da Justiça. A entomologia forense estará no currículo.

O pesquisador Claudio Von Zuben, da Unesp de Rio Claro, fala de um "efeito CSI" que explicaria boa parte do interesse dos estudantes de biologia pelo tema. "Além de a entomologia forense ser uma área nova e interdisciplinar, a mídia contribuiu para torná-la ainda mais atraente para os jovens", afirma. A série americana CSI: Crime Scene Investigation, sobre as aventuras de um grupo de peritos, teve como protagonista o entomologista forense Gil Grissom, interpretado pelo ator William Petersen.