Título: O Brasil é a nova China?
Autor: Landim, Raquel
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/10/2010, Economia, p. B8

O Brasil ainda não é a China da América Latina, pelo menos por enquanto, mas a manter o atual crescimento, pode melhorar ainda mais as taxas de risco na região. É o que consta do relatório da Moody"s divulgado esta semana.

Dois dos 28 países latino-americanos classificados pela agência têm perspectivas positivas, incluindo o Brasil, e outros três estão em processo de revisão para uma possível elevação de rating. O bom desempenho econômico ficou ainda mais claro na redução da diferença entre os ratings soberanos latino-americanos e os de outras regiões.

Mais importante, esse desempenho positivo se acentuou nos dois primeiros trimestres do ano. Sete países tiveram seus ratings elevados em 2010: Jamaica, República Dominicana, Nicarágua, Guatemala, Panamá, Chile e Costa Rica.

Para Mauro Leos, economista sênior da Moody"s, "a elevação dos ratings deve-se a uma melhora nas condições macroeconômicas da América Latina associada a uma menor vulnerabilidade a choques externos, à forte retomada econômica após a crise global e a uma tendência de queda das cargas de dívida".

China e Brasil. Para ele, é cada vez mais acentuada e marcante a influência do Brasil e da China na região. Há um forte aumento das relações comerciais da China e do Brasil com os países latino-americanos. As exportações dos países da região para o Brasil aumentaram 46% nos sete primeiros meses do ano. "A China é a parceira natural da América Latina com o aumento das importações de commodities da Argentina, Brasil, Chile, Costa Rica, Peru e Venezuela. Na última década, cresceram mais de 20% ao ano", lembra Leos.

Mas seria só isso? O comércio inter-regional e com a China seria a explicação? Não, afirma Leos. Os países da região estão fazendo um bom trabalho. "A elevação de preços tem sido usada pela maioria dos governos latino-americanos para reduzir a dívida, acumular ativos e reforçar as reservas internacionais. Isso fortalece os perfis de crédito e exerce pressão positiva sobre os ratings", diz Leos.

Caso o Brasil se torne um motor regional em termos de desempenho econômico, pode beneficiar-se do fortalecimento dos ratings de seus vizinhos nos próximos anos. "O boom econômico que ocorre no Brasil tem aumentado a estabilidade macroeconômica em outros países da América do Sul e pode continuar tendo efeitos positivos por causa da escala de sua economia."

Os impactos diretos do Brasil na América Latina seriam o comércio e os investimentos diretos na região. Já as influências indiretas incluem a visão otimista dos mercados financeiros internacionais em relação à América Latina, apoiada pelo fato de o Brasil representar um modelo de boas políticas econômicas.

Pode melhorar. Apesar das condições favoráveis e do apoio da China e do Brasil, é importante notar que o rating soberano médio da América Latina ainda está três níveis abaixo da média do universo de ratings soberanos classificados pela Moody"s, diz Leos. Além disso, a maior parte dos países latino-americanos são classificados no intervalo de B a Caa, a categoria mais baixa na escala de ratings. "Sendo assim, apesar das recentes elevações e do estreitamento entre os ratings, ainda há espaço para melhorar."

É possível? Os fatores positivos que levaram a América Latina a resistir à crise continuam presentes. Balanços públicos fortalecidos, robustos sistemas bancários, forte posição de reservas internacionais. "Se os governos não se tornarem complacentes, ao longo do tempo, haverá condições para maior redução entre a diferença dos ratings da América Latina e de outras regiões."

Brasil e China são importantes para manter esse cenário.

O que pode atrapalhar. Para a coluna, o que pode conter esse processo continua sendo o ressurgimento do protecionismo cambial, o estreitamento de mercados e a dependência crescente da exportação de matérias-primas. E isso porque está em grande parte concentrada na China, país que já se tornou nosso parceiro-competidor. Ela pode ser confiável para outros latino-americanos. Para nós, toda a crise comercial e cambial começa e acaba lá. A China precisa mudar.