Título: Superbactéria expõe falta de vigilância, alerta pesquisadora
Autor: Formenti, Lígia
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/10/2010, Vida, p. A26

Atribuir a resistência apenas ao uso incorreto ou abuso de antibióticos é simplista, afirma Ana Cristina Gales, da Unifesp O aumento de casos de infecção hospitalar provocada pela superbactéria KPC no Brasil reforça a necessidade de melhorar o sistema de vigilância de resistência bacteriana e de discutir as formas de prevenção, diz Ana Cristina Gales, professora de infectologia da Universidade Federal de São Paulo. "Muitos hospitais não sabem como e para quem mandar amostras", alerta.

Ela considera simplista a versão que atribui a resistência bacteriana apenas ao abuso de antibióticos. "As razões que levam uma bactéria a driblar a ação dos antibióticos não são totalmente conhecidas. O abuso do medicamento pode interferir, mas não é o único fator", diz. "Antibióticos são levados para o ambiente de diversas formas. Isso também tem de ser analisado."

Uma das formas de bactérias do meio ambiente terem contato com antibióticos é por meio de dejetos de esgotos de hospitais e da produção da indústria. Outro ponto relevante é o uso dos medicamentos na agricultura e no tratamento de animais.

Suspeitas. Até anteontem haviam sido registrados no Distrito Federal 187 casos suspeitos de infecção pela superbactéria. Na capital paulista, ela foi identificada no Hospital das Clínicas e no Hospital Heliópolis (mais informações nesta página). A Unifesp confirmou que amostras de Pernambuco, Bahia, Espírito Santo, Paraíba, Bahia, São Paulo, Rio e Rio Grande do Sul eram de KPC.

Técnicos sabem que pacientes de outras partes do País foram infectados, mas os casos não foram comunicados à Anvisa. Para reduzir essa lacuna de informação, será discutido na Anvisa um Plano Nacional de Microagentes Multirresistentes. O documento prevê que a comunicação das infecções multirresistentes às autoridades sanitárias passe a ser obrigatória.