Título: Europa quer atuação do G-20 na retirada de barreiras comerciais
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/10/2010, Economia, p. B1/2/3

A Europa teme que medidas consideradas temporárias adotadas por governos acabem se tornando permanentes, e vai insistir na cúpula do G-20 que as políticas distorcivas comecem a desaparecer. "Muitas dessas barreiras estão se transformando rapidamente em características permanentes do sistema global de comércio, e correm o risco de prejudicar a recuperação econômica", ressalta relatório publicado ontem.

Só entre maio e setembro deste ano 66 novas medidas foram aplicadas pelos 30 maiores parceiros da UE. Na realidade, apenas 37 foram retiradas em dois anos. A esperança da UE é de que o G-20, em Seul, se comprometa a começar a retirar as barreiras criadas durante a crise, além de evitar novas medidas. O problema é que, mesmo durante as cúpulas em que governos prometeram não aderir ao protecionismo, dezenas de medidas restritivas entraram em vigor. A credibilidade do grupo, portanto, não é seu forte.

Os russos são os líderes em restrições, segundo a UE. Mas o documento também aponta a Argentina e suas barreiras aos alimentos europeus e quase todos os setores industriais. No total, bateu todos os recordes em número de barreiras ao comércio desde a crise: mais de 72 desde outubro de 2008. Segundo a UE, as barreiras argentinas são um dos principais obstáculos à retomada das negociações com o Mercosul.

Quanto à entrada de produtos europeus no Brasil, a UE também deixou clara sua frustração com o governo Lula. Desde o início da crise, 12 medidas foram adotadas. Nenhuma até hoje foi retirada. Bruxelas pediu, no documento que as "barreiras protecionistas" adotadas pelo País nos últimos dois anos comecem a ser retiradas.

Em termos de barreiras às importações, os europeus citam a alta nas tarifas para aço, em junho de 2009. As turbinas para equipamentos de energia eólica também foram afetadas, e exportações da Dinamarca, Espanha e Alemanha foram as mais afetadas. Produtos de base para cosméticos ganharam novas barreiras.

O relatório é o sétimo já produzido pelos europeus em relação às barreiras sofridas no mundo e tem sido usado especialmente para informar o setor privado. Mas, politicamente, a estratégia de publicar a lista de barreiras também tem o objetivo de intimidar governos estrangeiros.

Segundo um diplomata em Bruxelas, não há dúvida de que o documento serve de "escudo" contra qualquer governo que ameace abrir uma disputa comercial contra a UE. "O que a UE diz com esse relatório é que, se alguém atacar, eles têm bala na agulha e estão prontos para atirar."