Título: Doutorado nos EUA forma mais mulheres
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/10/2010, Vida, p. A35

Elas mantêm ainda a liderança frente aos homens na graduação e no mestrado

Pela primeira vez na história, os Estados Unidos formaram mais doutoras que doutores. Além de superar os homens nos PhDs (doutorados), as mulheres mantiveram a liderança entre os que mais recebem diplomas de mestrados e graduações nas universidades americanas.

Daniel Teixeira/AEDesafio. Denise Bombonatti concilia a carreira acadêmica, o trabalho e a vida pessoal Segundo dados do Council of Graduate Schools (CGS), a entidade responsável pela medição, 50,4% dos novos doutores formados no último ano são do sexo feminino. E o índice de mulheres que concluíram o mestrado é ainda maior: 60,4%.

A vantagem feminina na pós-graduação americana se deve a um crescente número de mulheres que optou por se aprofundar nos estudos acadêmicos na última década. Essa tendência, porém, pode durar pouco e ser revertida em breve. O relatório do CGS indica que, no último ano, o total de homens que se matricularam em mestrados e doutorados nos Estados Unidos voltou a superar o de mulheres.

Dessa forma, apesar de mais doutoras terem se formado no último ano e provavelmente nos próximos, os homens podem voltar a assumir a liderança em meia década. Além disso, a American Association for University Women (AAUW) afirma que as mulheres continuam recebendo salários inferiores aos dos homens nas universidades americanas. As doutoras formadas hoje, apesar de estarem em maior número, devem receber menos do que seus colegas homens.

Para cada US$ 1 que um homem com graduação avançada recebe de salário, a mulher receberá apenas 77 centavos, segundo a AAUW.

Diferenças. Apesar de haver mais mulheres com PhDs nas áreas de humanas e biológicas, ainda existem menos doutoras nas ciências exatas. Em Engenharia, segundo os dados do CGS, apenas um em cada quatro alunos matriculados no último ano é mulher.

Até hoje, nos Estados Unidos, discute-se porque as mulheres se destacam menos em áreas como física e matemática. A polêmica levou, há alguns anos, à demissão do então presidente de Harvard, Lawrence Summers, que atualmente é um dos principais economistas do governo de Barack Obama. Na época, ele sugeriu que "diferenças inatas" poderiam explicar por que há menos mulheres nas posições mais altas da carreira científica.

A maternidade de muitas doutorandas também coincide muitas vezes com a duração do curso de doutorado, o que representa mais um obstáculo para as mulheres, segundo a AAUW.

Alguns acadêmicos divergem, dizendo que a flexibilidade da universidade facilita mais a vida das mães do que se elas estivessem num escritório. Cunharam até a expressão "dissertation baby" ("dissertação com bebê") para se referir àquelas que usam um dos três anos destinados à redação da tese para ter filho.

Apesar de não reclamar de diferença no tratamento, a brasileira Gabrielle Oliveira, doutoranda em Antropologia na Universidade Columbia, de Nova York, nota que o seu programa é liderado por quatro professores homens. "Ainda existe um pouco de preconceito na maneira de a disciplina ser ensinada. Nossas leituras obrigatórias são escritas por homens em 90% das vezes. E há menos mulheres que homens no meu departamento."