Título: Obama admite responsabilidade por derrota e pede diálogo a republicanos
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/11/2010, Internacional, p. A18

Derrotado nas eleições legislativas de terça-feira, o presidente dos EUA, Barack Obama, fez ontem um apelo público aos líderes do Partido Republicano para que negociem com os democratas e a Casa Branca soluções para reaquecer a economia do país. Abatido, Obama reconheceu em entrevista que os eleitores mostraram-se "profundamente frustrados" com sua agenda de governo e admitiu sentir-se "mal" com a derrota.

A eleição de meio de mandato nos EUA é considerada um referendo sobre o governo. Como em 1994, a votação de terça-feira refletiu uma clara desaprovação popular. O partido de Obama, o Democrata, perdeu 61 cadeiras na Câmara dos Representantes para os conservadores republicanos, que reconquistaram a maioria. Agora, serão 239 votos contra 185. A Casa passará a ser presidida por um dos maiores adversários da política econômica de Obama, o deputado John Boehner, de Ohio, a partir de janeiro.

No Senado, os republicanos tomaram 6 cadeiras dos democratas, que ainda conseguiram manter uma estreita maioria, de apenas 3 votos. Nessa Casa, a divisão será de 53 a 46 votos. O partido de Obama perdeu também sete governos estaduais, dos quais seis foram conquistados pelos republicanos e um será assumido por um político independente. A taxa de abstenção foi estimada em 40% nessa eleição.

"Nenhum partido será capaz de ditar aonde nós vamos daqui para adiante. Nenhum partido tem o monopólio das decisões", declarou Obama, em um sinal aos republicanos de que a negociação oferecida não significará a adesão integral da Casa Branca a todas as suas propostas. "Democratas e republicanos têm de empurrar a agenda econômica pra cima. Não estamos movendo a economia como queríamos. Isso vai requerer o trabalho conjunto de democratas e republicanos. Mas, não será fácil", insistiu.

À entrevista, seguiu-se à iniciativa de Obama, no final da noite de terça-feira, de telefonar para John Boehner, para o líder da minoria republicana no Senado, Mitch McConnell, e para a atual presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi. Naquele momento, com a contagem de votos começando na Costa Leste, sua derrota já estava delineada. Mesmo ciente da resistência dos republicanos a um diálogo com a Casa Branca, o presidente americano propôs a busca de "denominadores comuns" para lidar com o crescimento lento demais da economia.

Mão estendida. Ontem, Obama apresentou-se à opinião pública como o líder derrotado que reconheceu seus erros e estendeu a mão aos vitoriosos - gestos valorizados no país. Mas, com habilidade, definiu limites e impôs suas prioridades.

A de "número 1", informou, será negociar com Boehner e McConnell a redução de impostos para a classe média, as pequenas e médias empresas e os investimentos em pesquisa e desenvolvimento. "O mais importante é estimular e encorajar o setor empresarial", afirmou o presidente.

O presidente americano indicou sua relutância em ceder em outros pontos centrais de sua agenda de governo, como na reforma dos planos de saúde, uma das principais medidas adotadas neste ano. Como alternativa, colocou-se aberto a "discutir ideias" para reduzir os custos dos planos aos consumidores, às empresas e ao governo.

Minutos antes de sua entrevista, Boehner afirmou à imprensa que, na condição de presidente da Câmara, destruirá a "monstruosa reforma dos planos de saúde". Também atropelou outras propostas de conciliação de Obama, como o incentivo ao setor de energia limpa.

"Está bastante claro que a agenda Obama-Pelosi foi rejeitada. Eles (o eleitorado) querem que o presidente mude o curso de seu governo, e é isso que nós (republicanos) vamos fazer", disse.

Mea-culpa

BARACK OBAMA PRESIDENTE AMERICANO "Sinto-me mal. Tenho de melhorar meu trabalho como presidente, assim como todos que trabalham em Washington devem melhorar também. Os eleitores querem que trabalhemos ainda mais duro e juntos. Haverá pontos de discórdia, mas é preciso agir com responsabilidade"

OS PERSONAGENS DA ELEIÇÃO

John Boehner, PRESIDENTE DA CÂMARA DOS REPRESENTANTES, REPUBLICANO

O 3º homem do governo Congressista republicano por Ohio, vai substituir a democrata Nancy Pelosi na presidência da Câmara dos Representantes, e se tornar o terceiro na hierarquia dos EUA, atrás do vice-presidente. Promete bloquear projetos econômicos de Obama e acabar com a reforma da saúde.

Marco Rubio, SENADOR ELEITO PELA CALIFÓRNIA, REPUBLICANO

Obama republicano Integrante do Tea Party foi eleito senador na Flórida. Filho de imigrantes cubanos que trabalharam duro para educar três filhos, ele é o produto perfeito do sonho americano. Advogado, religioso e conservador, é considerado o Obama dos republicane tem chances em 2012.

Rand Paul, SENADOR ELEITO PELO KENTUCKY, REPUBLICANO

Estreia na política Figura conhecida do Tea Party, o senador eleito pelo Kentucky Rand Paul é filho de outro político famoso no país, Ron Paul, um republicano do Texas. Médico, é contra a reforma da saúde e afirmou que vai trabalhar com os ultraconservadores para retomar o governo dos democratas.

Nikki Haley, GOVERNADORA ELEITA DA CAROLINA DO SUL, REPUBLICANA

A nova Sarah Palin Filha de imigrantes indianos, Nikki Haley é considerada uma aposta de longo prazo, que pode rivalizar com ex-governadora do Alasca Sarah Palin nas fileiras conservadoras do Tea Party. Enfrentou acusações de infidelidade na campanha, apesar de vender uma imagem severa.

Sarah Palin, EX-GOVERNADORA DO ALASCA, REPUBLICANA

O furacão conservador Líder do Tea Party sai fortalecida da campanha. Não concorreu a nenhum cargo, mas ganhou exposição nacional ao comandar a ultradireita do Partido Republicano. Palin era praticamente desconhecida até 2008, quando foi escolhida como vice na chapa de John McCain.

Lisa Murkowski,

SENADORA REELEITA PELO ALASCA, INDEPENDENTE

Ex-republicana Derrotada nas primárias republicanas no Alasca por um integrante do Tea Party apoiado por Sarah Palin, a senadora Lisa Murkowski decidiu tentar a reeleição de forma independente - e lidera com folga a apuração. Seu nome sequer constava nas cédulas de votação.