Título: Municípios apontam problemas em coleta de dados do Censo 2010
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/11/2010, Vida, p. A24

Sociedade. Prefeitos têm interesse em manter ou elevar população de suas cidades, pois com base nela são calculados repasses de verbas federais e estaduais; um caso de falha no recenseamento, no interior de São Paulo, já está sendo corrigido pelo IBGE

Às vésperas da divulgação dos dados preliminares do Censo 2010, prefeitos de diversos municípios contestam os números levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), reclamam da metodologia utilizada e apontam falhas de recenseadores. A principal preocupação é a queda nos repasses federais e estaduais, calculados com base no tamanho da população. O IBGE afirma que algumas entrevistas poderão ser refeitas caso problemas pontuais sejam constatados, mas ressalta que em nenhum município haverá necessidade de refazer todo o levantamento. O órgão reconhece ter havido pelo menos uma falha no caso de um recenseador da cidade de Patrocínio Paulista, nordeste de São Paulo.

O resultado do censo no local apontou uma população de 12,9 mil habitantes, mas o prefeito José Mauro Barcellos (PT) garante que o número real ultrapassa 13.500. Ele conta que recebeu muitas reclamações de pessoas que não tinham sido visitadas e iniciou uma investigação paralela por meio dos leituristas do Sistema de Abastecimento de Água e Esgoto e de professores das escolas municipais. "Constatamos que muita gente não tinha sido recenseada e fui ao IBGE de Franca reclamar", disse.

A responsável pelo Censo na região, Mirian Spagnolo, confirmou ter havido "um problema num setor da cidade". Ela explica que supervisores começaram a ir as casas e comprovaram que algumas pessoas indicadas por um recenseador não eram as que moravam no local. "Não sei porque o recenseador mentiu. Ele pode não ter encontrado a pessoa e colocou um nome fictício, contou uma mentirinha", disse.

Segundo o prefeito, com mais 600 habitantes a cidade teria um acréscimo no orçamento municipal de R$ 1,8 milhão por meio do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). "Parece pouco, mas dá para melhorar muita coisa, principalmente na área da saúde", diz. Patrocínio Paulista tem uma receita anual de R$ 24 milhões e a verba do FPM é um dos maiores fontes de recursos da cidade.

Em Ribeirão Preto, a prefeita Dárcy Vera (DEM) usa o twitter e seu blog para citar números locais que apontam haver pelo menos 100 mil habitantes a mais que os 601 mil contados pelo Censo. "Essa metodologia prejudica os municípios", afirma Dárcy referindo-se ao fato de o IBGE não contabilizar como moradores os estudantes universitários de outras cidades, classificados como população flutuante. O mesmo critério é adotado para pessoas que trabalham durante a semana na cidade e retornam para casa no fim de semana.

O coordenador do Censo em Ribeirão Preto, Rafael Carvalho, afirma que "a metodologia de população flutuante do IBGE é universal, adotada em todo o País".

Em São Lourenço da Serra, na Grande São Paulo, o prefeito Lener do Nascimento Ribeiro (DEM) solicitou recontagem dos dados. Embora a última projeção do IBGE tenha apontado 18,3 mil habitantes, a contagem feita pelos recenseadores não atingiu 14 mil. "Só quero que a cidade não seja prejudicada por preservar o meio ambiente."

Mais de 80% do território do município são cobertos por florestas ou estão em área de proteção de mananciais. A distribuição da população criou núcleos de difícil acesso. O prefeito acredita que muitos deles não foram recenseados. "Até a residência de um vereador foi pulada."

Os municípios de Itapetininga e Pilar do Sul, no sudoeste paulista, também reclamam que o número de moradores foi menor do que o previsto. Já em São Roque, região de Sorocaba, a situação é inversa. O censo encontrou no município cerca de dez mil pessoas a mais que os 67, 7 mil esperados. Nesse caso, a prefeitura não reclamou. Outros dois município do Piauí, Francisco Macedo e Anísio de Abreu, ultrapassaram em até 120% a estimativa do IBGE. / BRÁS HENRIQUE, JOSÉ MARIA TOMAZELA, LUCIANO COELHO e RENATO ALVES