Título: Bovespa reage com moderação depois de anúncio do Fed
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/11/2010, Economia, p. B1

Mercado está dividido sobre a ajuda do banco central americano. Ontem, Ibovespa teve valorização de 0,48%

O mercado de ações reagiu com moderação sobre o plano do Federal Reserve de comprar US$ 600 bilhões de Treasuries de longo prazo para estimular a economia. Ontem, a Bovespa teve alta moderada seguindo movimentação das bolsas em Nova York, que se mantiveram em baixa num primeiro momento, mas depois viraram para o lado positivo. O Ibovespa fechou com valorização de 0,48%, aos 71.904,77 pontos, tendo como suporte a valorização das ações de Petrobras e dos bancos. No entanto, faltou fôlego à Bolsa para buscar a marca de 72 mil pontos alcançada na parte da manhã, quando subiu 0,77% (72.110 pontos).

O mercado está dividido em relação ao pacote de ajuda do Fed, embora tenha superado levemente as estimativas dos analistas, que trabalhavam com um valor mais próximo de US$ 500 bilhões nos últimos dias. Há duas leituras para essa nova rodada de afrouxamento quantitativo nos EUA. Uma, positiva, é de que um pacote dessa magnitude era necessário para reforçar a recuperação da economia. No comunicado que se seguiu à decisão de manter a taxa de juro inalterada na faixa entre zero e 0,25%, o Fed reconheceu que o ritmo de recuperação na produção e no emprego segue lento.

Por outro lado, analistas ponderam que, se dois anos depois da crise financeira ainda é preciso injetar uma quantidade de recursos desse calibre na economia, é porque a situação é muito ruim. Sem falar na leitura de que essa emissão de dinheiro representa, no longo prazo, um aumento do endividamento do Estado e a possibilidade grande de gerar inflação.

Assim, a avaliação é de que o quadro ainda é de volatilidade até o mercado assimilar essa decisão e ver como outras economias importantes, caso da União Europeia, Inglaterra e Japão vão se portar. Amanhã, o BCE e o BC inglês anunciam suas decisões de política monetária, e na sexta-feira é a vez do Japão.

"O impacto dessa notícia nos negócios deve ser melhor dimensionado daqui a três a quatro dias. A decisão do Fed ainda vai rodar no mercado asiático. Posições maiores geralmente são montadas com prazo mais longo de maturação, prevendo todas as possibilidades", afirma o economista-chefe da Legan Asset Management, Fausto Gouveia.

Perto do fechamento, as ações de Petrobras aceleraram os ganhos, o que impulsionou o índice à vista. As preferenciais da estatal subiram 2,47% e as ordinárias avançaram 1,17%, movimentando R$ 1,2 bilhão, o que contribuiu positivamente para o giro financeiro total da Bolsa de R$ 7,253 bilhões. Os papéis, além de estarem muito defasados em relação ao Ibovespa, reagem às perspectivas de aumento das reservas de óleo e gás no País. Operadores dizem que essa alta também reflete o alívio após o pronunciamento da presidente eleita, Dilma Rousseff (PT), que prometeu manter a política cambial e monetária, e maior rigor fiscal.