Título: Qual é o futuro dos democratas?
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/11/2010, Internacional, p. A16
Para convencer os eleitores que merece continuar governando os EUA depois de 2012, partido de Obama terá de demonstrar capacidade de tomar decisões difíceis Artigo
Os democratas podem se recuperar das decepções desta eleição e preparar o palco para o sucesso em 2012. Mas, para tanto, teremos que aprender com os resultados de terça-feira.
Muitos de nossos problemas eram previsíveis. Um público descontente com a economia vai descontar sua frustração no partido que estiver no poder, mesmo que os problemas tenham começado no governo anterior. Além disso, quando um partido controla tudo - a Câmara, o Senado, a Casa Branca - eleitores insatisfeitos têm um único alvo para a sua ira. E o partido do presidente quase invariavelmente perde cadeiras nas eleições legislativas que ocorrem na metade do seu mandato.
Independentemente disso, padrões recorrentes na História, amplas forças econômicas e as leis da política não são as únicas responsáveis pela difícil situação em que se encontram os democratas. Até certo ponto, somos os autores de nosso próprio infortúnio e precisamos abrir um caminho melhor para avançar.
Está claro que os democratas superestimaram o próprio poder. As referências a um "realinhamento político" e a uma "nova era progressista" mostraram ser apenas otimismo. As pesquisas de opinião realizadas imediatamente após as eleições de 2008 revelaram que 22% dos eleitores se consideravam liberais, 32% viam-se como conservadores e 44% como moderados. Um eleitorado com 76% de moderados e conservadores não estava exatamente ansiando por uma guinada para a esquerda.
Também exageramos ao nos concentrar no sistema de saúde em lugar da criação de empregos durante uma recessão aguda. Foi uma aspiração nobre, mas US$ 1 trilhão em novos gastos e uma ampla expansão na base de beneficiários são mais bem aceitos quando o Tesouro apresenta números favoráveis e a economia se mostra robusta, situação muito diferente da atual.
E agimos com excessiva deferência em relação aos nossos partidários mais fiéis. Durante a temporada eleitoral, o Congresso buscou aplacar aqueles situados na extrema esquerda e motivar a base - mas isto significou que nossos esforços finais antes da eleição se concentraram em tentar garantir a admissão de gays no Exército, mudar nosso sistema de imigração e revogar os cortes de impostos da era de George W. Bush. São ambições legítimas, mas que não encontrariam eco entre eleitores moderados e indecisos num período de descontentamento econômico.
Com tais lições em mente, os democratas podem começar a reconstrução.
Por onde começar? Em primeiro lugar, nosso problema vai além da comunicação - o público nos ouviu, mas discordou de nossa abordagem. Nós, democratas, não precisamos reavaliar nossas metas para os Estados Unidos, e sim repensar seriamente os meios que propomos para atingi-las. Em segundo lugar, os eleitores não podem ser responsabilizados. Eles não são estúpidos e nem sujeitos a ser manipulados pelo medo. Mostram-se céticos com relação à eficiência do governo, estão preocupados com o déficit e com raiva por ver que os democratas deram prioridade a outros temas diferentes de sua principal preocupação: o crescimento econômico.
Assim, no curto prazo, todas as medidas públicas devem ser vistas através de um único prisma: será que ajudam a economia a crescer? Um bom ponto de partida seria a reforma tributária. Deveríamos reduzir as alíquotas para tornar as empresas americanas mais competitivas do ponto de vista global; recompensar a poupança e o investimento; simplificar a lei para reduzir o custo de adimplência e ampliar a base de arrecadação. Em 1986, essa abordagem atraiu apoio bipartidário e fomentou o crescimento.
O estereótipo de gastadores e cobradores de impostos de olhos esbugalhados atribuído aos democratas foi ressuscitado. Para recuperar nossa posição na política, precisamos convencer os moderados que nós, democratas, somos capazes de tomar decisões difíceis. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL