Título: IDH sobe 18% desde 1990, mas problemas graves persistem
Autor: Formenti, Lígia
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/11/2010, Vida, p. A30

A média universal do IDH aumentou 18% desde 1990. Mas a melhora estatística, está longe de animar autores do Relatório do Desenvolvimento Humano 2010, lançado ontem. Eles argumentam que, embora os números reflitam avanços em determinadas áreas, o mundo continua a conviver com problemas graves, que exigem uma nova perspectiva política. "Embora não haja balas de prata ou poções mágicas para desenvolvimento humano, algumas implicações políticas são claras. Não podemos presumir que desenvolvimento futuro imitará os avanços do passado", informa o relatório.

O economista do Pnud, Flávio Comim, reforça uma das mensagens. "O desenvolvimento é uma ideia em evolução. E, como tal, exige mudanças - não apenas nos indicadores, como fizemos agora com IDH- mas também nas políticas adotadas."

O cenário apresentado pelo relatório não é animador. O documento adverte que, nestes 20 anos, parte dos países enfrentou sérios problemas, sobretudo na saúde, anulando em alguns anos os ganhos de várias décadas. Além disso, o crescimento econômico tem sido desigual. Os padrões de produção e consumo atuais são considerados inadequados. "É preciso esforços para assegurar que desenvolvimento humano resista à passagem do tempo, que seja sustentável."

Autores do relatório observam que, apesar de não haver consenso sobre políticas de desenvolvimento, muitos interpretam a crise financeira como lembrete acerca dos perigos da liberalização absoluta. "O impacto da crise no pensamento ainda não é claro, mas o pêndulo balança claramente para regresso a um papel mais ativo das políticas públicas e um objetivo de desenvolvimento mais humanitário", informa o texto.

Embora não queira apresentar receitas prontas, o relatório traça caminhos possíveis. Entre eles, o reconhecimento da ação pública na regulação da economia para proteger grupos mais vulneráveis. Outro aspecto ressaltado é a necessidade de considerar, pobreza, crescimento e desigualdade como temas interligados. "Crescimento rápido não deve ser o único objetivo político, porque ignora a distribuição do rendimento e negligencia a sustentabilidade do crescimento."

Um aspecto importante revelado pelo relatório é que, muitas das ações para melhoria de saúde e educação não necessitam de grande investimento financeiro. Isso está mais presente sobretudo em países onde indicadores são ruins. "Numa primeira etapa, medidas simples como inclusão do soro caseiro e lavar as mãos, já trazem impacto muito relevante", avalia Comim.

É JORNALISTA DE O ESTADO DE S. PAULO