Título: Participação feminina na política é de 9,4 %, inferior à da Argentina
Autor: Formenti, Lígia
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/11/2010, Vida, p. A30

Taxa de mortalidade materna e fertilidade na adolescência tornam o Brasil mais desigual para as mulheres A escolha de mulheres para exercer um cargo político ainda é exceção no Brasil. Apesar da vitória de Dilma Rousseff nas eleições presidenciais, o País exibe um baixo porcentual de políticas com mandato. Das vagas existentes, apenas 9,4% são ocupadas pelo grupo feminino. Um índice bem inferior ao apresentado pela vizinha Argentina, com 39,8%, mostra o Relatório de Desenvolvimento Humano preparado pelas Nações Unidas.

O baixo desempenho nesse quesito é um dos responsáveis pela colocação do País num novo ranking preparado pelo Pnud, que avalia as desigualdades entre homens e mulheres. Se esse índice fosse o único a valer, a classificação do Brasil cairia oito pontos: em vez de 73º lugar, o País estaria em 80º.

Além da participação política, o novo indicador avalia dados como taxa de mortalidade materna, fertilidade durante a adolescência, a participação no mercado de trabalho e porcentual da população que completou, pelo menos, a educação secundária. Desses quesitos, taxa de mortalidade materna e fertilidade na adolescência são os que mais pesam para a queda de classificação no Brasil.

Os índices mostram que 110 mulheres a cada 100 mil nascidos vivos morrem em decorrência de complicações do parto. Um índice 18 vezes maior do que o primeiro colocado no Índice de Desigualdade de Gênero, Países Baixos: 6 mortes.

Gravidez na adolescência. A diferença se repete nas taxas de fertilidade entre adolescentes. A cada 100 mil mulheres com idade entre 15 e 19 anos, 75,6 engravidam no Brasil. Número 19,8 vezes maior do que o registrado nos Países Baixos: 3,8.

N. tem 16 anos, mas passaria por uma pré-adolescente pelos traços infantis e pelo corpo pequeno. A jovem baiana, estudante da 6ª série, porém, já é mãe de uma menina de 1 ano e 7 meses. Para ajudar no sustento da criança, se prostitui. Seu sonho é casar com "um estrangeiro".

Em um único aspecto o Brasil mostra uma desigualdade em favor das mulheres: a taxa de escolaridade. "Há um porcentual maior de mulheres que completaram o ensino secundário. Mas isso não se reflete no mercado de trabalho", afirma o economista do Pnud Flávio Comim.