Título: Mesmo com alta do IOF, País recebeu US$ 7 bi em outubro
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/11/2010, Economia, p. B1
Entrada de moeda só perdeu para o mês de setembro, quando foi realizada a capitalização da Petrobrás
Apesar do aumento da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o Brasil foi mais uma vez inundado por dólares em outubro. Mesmo sem os investidores da Petrobrás, US$ 6,91 bilhões entraram no mês passado, o segundo maior valor do ano - atrás apenas de setembro - e o dobro do acumulado de janeiro a agosto, antes da enxurrada gerada pela estatal.
Analistas dizem que estrangeiros estão interessados no juro pago pelo País e o fluxo pode crescer ainda mais porque parte dos US$ 600 bilhões injetados na economia dos Estados Unidos deverá vir para cá.
Sem fatos extraordinários como em setembro, o Brasil mostrou que continua um verdadeiro ímã de dólares. Dados do Banco Central divulgados ontem mostram que só na conta financeira, por onde passam investimentos em ações e renda fixa, o ingresso foi 327% maior que em agosto, quando não havia reflexo da megaoperação da estatal.
"Depois do dado inflado de setembro, outubro mostra que o diferencial de juros entre o Brasil e o exterior continua grande e lucrativo o suficiente para atrair tantos dólares", diz a economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thaís Zara. Para ela, é mais adequado comparar outubro com agosto, já que setembro foi um "ponto fora da curva" graças à operação da petrolífera.
Mais força. Os números do BC mostram que as operações financeiras lideram a atração dos estrangeiros. Em outubro, a chamada conta financeira - onde são registradas transferências da moeda para compra de ações, títulos de renda fixa e investimento produtivo, entre outras - registrou ingresso líquido de US$ 5,14 bilhões, quatro vezes mais que em agosto. "Ao longo das últimas semanas, ficou claro que os EUA vão demorar para se recuperar e, por isso, os juros seguirão baixos. Isso aumentou a propensão do investidor a aceitar mais risco atrás de juros. Nessa, o Brasil é um dos preferidos", diz Thaís Zara.
Agora, com a megainjeção de US$ 600 bilhões na economia dos Estados Unidos anunciada na quarta-feira, a enxurrada pode ganhar mais força. "Há um efeito colateral inevitável: o afluxo de dólares para mercados mais atraentes que os EUA, aqueles que pagam mais juros e crescem mais. Enfim, o Brasil e a China, entre outros", diz o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, em relatório aos clientes.
Para evitar que o capital estrangeiro valorize ainda mais o real - o que pode acelerar as importações e prejudicar ainda mais as exportações -, o Brasil teria de reduzir a taxa de juros. "Mas essa é uma opção muito distante porque haveria mais inflação", diz Thaís Zara. Diante do quadro, o mercado trabalha com a hipótese de novas medidas para tentar atenuar o efeito dos bilhões que estão por vir.