Título: O que fez o Fed e por quê
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/11/2010, Economia, p. B1

Críticos dizem que compra de títulos vai aumentar a base monetária, mas o Fed [br]acha que essa avaliação é um pouco exagerada

Dois anos se passaram desde que a pior crise financeira dos últimos 70 anos arrasou a economia mundial.

Trabalhando com autoridades americanas e de outros países, o Federal Reserve respondeu à crise com medidas fortes e criativas para estabilizar o sistema financeiro e a economia. Uma das medidas adotadas pela instituição foi um amplo afrouxamento da política monetária, reduzindo os juros de curto prazo praticamente a zero. O Fed também comprou títulos do Tesouro e títulos respaldados por hipotecas por um valor superior a US$ 1 trilhão, o que permitiu reduzir os juros, as hipotecas e os bônus corporativos. Estas medidas interromperam a queda livre da economia e prepararam o terreno para a retomada do crescimento, em meados de 2009.

Apesar do progresso obtido, quando o comitê de política monetária do Fed - o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) - se reuniu esta semana para uma avaliação da situação econômica, não nos sentimos satisfeitos.

O objetivos do Fed - seu duplo mandato estabelecido pelo Congresso - são a promoção de um elevado nível de emprego e uma inflação baixa e estável. Infelizmente, o mercado do emprego continua muito fraco; a taxa nacional de desemprego é de quase 10%, um número considerável de pessoas só encontra uma ocupação em tempo parcial, e uma parcela substancial dos desempregados está sem trabalho há mais de seis meses.

O enorme custo do desemprego inclui uma pressão intensa sobre as finanças de uma família, mais execuções de hipotecas e a perda da capacidade para o emprego.

Hoje, a maior parte das avaliações da inflação estrutural assinalam algo abaixo de 2%, ou um pouco menos do que a taxa que a maioria dos estrategistas do Fed considera mais adequada para um vigoroso crescimento econômico a longo prazo. Embora uma inflação baixa seja em geral um fator positivo, uma inflação baixa demais coloca em risco a economia. Nos casos mais extremos, uma inflação muito baixa pode se transformar em deflação, o que pode contribuir para longos períodos de estagnação econômica.

Mesmo que este perigo não exista, uma inflação baixa e em queda indica que a economia dispõe de uma considerável capacidade de reserva, o que implica que há espaço para a política monetária suportar mais ganhos em matéria de emprego sem o risco de um superaquecimento econômico. O Fomc decidiu esta semana que, com o desemprego elevado e a inflação muito baixa, a economia necessita de um apoio maior. Com os juros de curto prazo já em seu patamar mínimo, o Fomc concordou em dar seu apoio mediante a compra de títulos adicionais de longo prazo, como fez em 2008 e 2009. Até meados, de 2011, o FOMC pretende comprar mais US$ 600 bilhões de títulos do Tesouro a longo prazo.

No passado, esta estratégia favoreceu a melhoria das condições financeiras e, até o momento, parece ainda eficiente. Os preços das ações subiram e os juros de longo prazo caíram quando os investidores começaram a antecipar as medidas mais recentes. A melhoria das condições financeiras impulsionará o crescimento econômico.

Embora a compra de ativos seja um instrumento relativamente pouco familiar da política monetária, os temores em relação a esta estratégia são em parte exagerados. Por exemplo, os críticos temem que produza aumentos excessivos da base monetária e, em última instância, uma alta considerável da inflação.

Esta estratégia teve anteriormente escassas consequências para o volume de moeda em circulação. Tampouco provocou uma alta da inflação.

O Fed não pode solucionar, por conta própria, todos os problemas da economia. Este é um processo que tomará tempo e exigirá os esforços conjuntos de vários atores, como o banco central, o Congresso, o governo, as autoridades reguladoras e o setor privado. Mas o Fed tem a obrigação específica de ajudar a promover o aumento do emprego e sustentar a estabilidade dos preços. As medidas tomadas esta semana o ajudarão a cumprir suas obrigações.

TRADUÇÃO: ANNA CAPOVILLA

O AUTOR É O CHAIRMAN DO CONSELHO DE DIRETORES DO FEDERAL RESERVE