Título: Mantega se queixa do pacote de US$ 600 bi do Fed
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/11/2010, Economia, p. B1

Para ministro, "não adianta os EUA jogarem dólares pelo helicóptero" porque não farão "brotar" crescimento

A decisão do Federal Reserve - o banco central dos Estados Unidos - de injetar US$ 600 bilhões na economia desagradou ao governo brasileiro e colocou lenha na fogueira do debate internacional sobre a chamada guerra cambia. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que "não adianta os EUA jogarem dólares pelo helicóptero" porque não farão "brotar" o crescimento na sua economia e ainda provocam o risco de bolhas na economia mundial.

Na reunião ministerial com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Mantega disse que a melhor estratégia de saída da crise para os EUA seria o uso da política fiscal, via aumento do gasto público e da renda transferida para a população mais pobre, fortalecendo o mercado interno.

O cenário para esse tipo de atuação já era complicado e ficou ainda mais com a derrota política do presidente Barack Obama nas eleições legislativas, que deu aos republicanos, defensores da austeridade fiscal, maioria no Congresso norte-americano.

Apesar das notícias negativas (pelo menos para o governo brasileiro) vindas dos EUA, o Brasil vai insistir em um acordo internacional que coloque um freio na chamada guerra cambial no âmbito do G-20 (Grupo das 20 maiores economias do mundo). "Esse é um problema que pode se agravar, se os Estados Unidos persistirem nessa política. Isso vai ser um tema importante para discutir em Seul. Vamos insistir para que os EUA modifiquem essa política e tenham outras alternativas". disse Mantega.

Embaixadores. No encontro de ministros, Mantega disse que o País está fortalecido para esse debate internacional porque apresenta um dos maiores ritmos de crescimento no mundo. Ele mencionou que o Brasil poderá ter expansão de até 8% em seu Produto Interno Bruto (PIB) neste ano - oficialmente a projeção é de crescimento de 7,5%.

Dentro dessa aposta de um acordo internacional, o secretário de assuntos internacionais do Ministério da Fazenda, Marcos Galvão, tem se reunido com embaixadores de países do G-20 para encaminhar as discussões em torno da guerra cambial. Mas fontes do governo reconhecem que a atuação americana dificulta um entendimento e o risco é, caso o G-20 não consiga se acertar, que o mundo parta para uma política de "cada um por si". Nesse cenário, o governo brasileiro deverá ser mais agressivo na política cambial para evitar sobrevalorização do real e seu impacto sobre a economia nacional.

Mantega disse, na reunião ministerial, enxergar claramente que o câmbio desvalorizado está sendo usado como estratégia econômica por países como os EUA e China. E mencionou que, como consequência disso, o País passou a ter neste ano déficit comercial com os Estados Unidos. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, complementou a análise dizendo que o Brasil é o país que hoje mais dá superávit comercial aos EUA.

Para Mantega o risco da decisão do Fed, de promover o afrouxamento monetário, é criar uma "bolha" no mercado internacional. O excesso de crédito que os EUA estão colocando na economia, disse, desvaloriza o dólar e traz problemas para outros países. "Quando o dólar se desvaloriza, o que acontece? Valoriza o euro, atrapalha os países europeus, atrapalha os países latino-americanos, atrapalha o Brasil, atrapalha a própria China".