Título: Tesouro trava disputa com mercado por taxa de juros
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/11/2010, Economia, p. B1
Depois da alta do IOF, investidores passaram a pedir juros mais altos para comprar títulos da dívida pública
Depois da dose dupla de alta do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para o capital externo, o governo trava uma dura queda-de-braço com o mercado financeiro para estancar o movimento de aumento das taxas de juros dos papéis prefixados com prazos de vencimentos mais longos. O Tesouro Nacional ajustou a sua estratégia de oferta nos leilões de venda de títulos na tentativa de estabilizar os preços e normalizar esse mercado.
Os leilões dos títulos prefixados mais longos - as NTN-F com vencimento em 2017 e 2021 - foram reduzidos de semanais para quinzenais e os lotes ficaram menores. Esses papéis são os preferidos dos investidores estrangeiros. E, com o IOF alto, foram os ativos que sofreram mais com a decisão da equipe econômica de elevar o tributo para conter o fluxo de dólares para o País.
Com a retração dos estrangeiros, a demanda reduziu e os investidores passaram a pedir taxas mais salgadas para comprar os papéis. Uma das preocupações do governo é com a pressão de alta também no mercado secundário de venda de títulos públicos, onde os investidores negociam os papéis entre si. O risco é que a pressão crie um círculo vicioso de elevação das taxas de juros, que alimente o movimento de alta, contaminando ainda mais as taxas desses títulos mais longos e de outros papéis.
O subsecretário de Dívida Pública do Tesouro, Paulo Valle, disse ontem ao Estado que o ajuste na estratégia vai permanecer até os preços se estabilizarem. "O IOF traz uma volatilidade num primeiro momento. Vamos emitir menos papéis até se normalizar", sinalizou. Segundo ele, a mudança de estratégia evita adicionar mais volatilidade ao mercado.
A expectativa de Valle é que em breve esse mercado se estabilize e volte à normalidade. Segundo ele, o Tesouro está confortável na administração da dívida pública, com dinheiro em caixa, o que permite adotar essa estratégia. Para ele, as taxas da NTN-F estão altas e não correspondem aos fundamentos da economia, e devem cair.
Bônus em reais. Paralelamente ao pé no freio na oferta de títulos prefixados no mercado interno, o Tesouro deve voltar em breve ao mercado internacional com uma nova emissão de bônus atrelado ao real (BRL). O mais provável é que seja um título de 10 anos, com vencimento em 2021. Essa estratégia de voltar a emitir papéis em reais visa reduzir a entrada de dólares no País, atendendo a demanda dos investidores no exterior. Eles não precisam entrar com os recursos no País para comprar títulos da dívida interna.
O Tesouro vai lançar novos prazos de vencimento. O subsecretário informou que a prioridade será um novo prazo de 10 anos. O Tesouro também poderá lançar papéis de até 30 anos, dependendo das condições de mercado. Hoje, o Tesouro tem em mercado BRL com prazos de vencimento em 2016, 2022 e 2028.
O Tesouro também vai garantir liquidez (quantidade disponível no mercado) para todos os prazos de vencimento dos novos BRLs, para que os papéis tenham bom desempenho no mercado secundário. No mercado de títulos da dívida externa atrelados ao dólar, o Tesouro considera um volume satisfatório de liquidez entre US$ 2 bilhões e US$ 3 bilhões para cada prazo de vencimento.
Títulos
R$ 1,1 bilhão foi quanto o Tesouro vendeu em papéis com vencimento em 2028, no final de outubro
R$ 3 bi é até quanto o Tesouro considera um volume satisfatório de liquidez para cada prazo de vencimento dos títulos
8,850% ao ano foi a taxa de retorno ao investidor a quanto foi vendido os títulos BRL 2028