Título: Aposta em gás se revelou frustrante
Autor: Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/11/2010, Economia, p. B1
A centenária Nadir Figueiredo já exportou para 120 países, mas hoje seus produtos só chegam em 40 deles
Não é só a indústria de alumínio que sofre com o custo alto dos insumos. No passado, o setor de vidros correu para converter sua produção para o gás natural e hoje é refém do produto, diz o superintendente da Associação Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro (Abividro), Lucien Belmonte. Segundo ele, investidores que querem se instalar no País levam um susto quando veem o preço dos insumos.
A centenária Nadir Figueiredo foi uma das primeiras consumidoras de gás de São Paulo, há mais de 30 anos, diz Raul Antônio de Paula e Silva, membro do conselho da empresa. Na época, o combustível era o gás de nafta. Depois veio o gás natural, mais limpo e eficiente. Mas a alegria durou pouco. "De repente os preços começaram a subir. Hoje pagamos o gás mais caro do mundo e estamos na mão de um único produtor", a Petrobrás. O gás natural representa 18% a 20% do custo dos produtos da empresa. O resultado é a redução da exportação e perda do mercado interno. "Antes exportávamos para 120 países e hoje só para 40."
Constantino Neto, da Cerâmica City, teve mais alternativas. Antes do gás natural, a empresa de blocos cerâmicos usou lenha e óleo combustível. "No começo foi uma maravilha. O combustível era limpo, eficiente e permitia maior organização no processo. Mas foi tudo enganação." Com o aumento do preço, o combustível ficou inviável e Neto partiu para a queima de pó de serragem, que exige estrutura maior, local para armazenar e tratores.
No caso das fábricas de cerâmica de revestimento, o gás é a única alternativa. "Cerca de 25% do custo de produção é gás", diz Antônio Carlos Kieling, da Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimento (Anfacer). De 2004 pra cá, o volume de importação de cerâmica da China saltou de 500 mil m² para 20 milhões de m².