Título: Aumento da produção de gás pode reduzir custo
Autor: Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/11/2010, Economia, p. B1

Expectativa dos analistas é que, nos próximos anos, haverá excedente do insumo com a entrada em produção de novas reservas a partir de 2011

A grande esperança do setor produtivo, que usa o gás natural como principal insumo, é que o aumento da produção nacional possa reduzir os custos nos próximos anos. Com a entrada em operação de novas reservas a partir de 2011, haverá excedente de gás no mercado, diz o presidente da consultoria Gas Energy, Marco Tavares. "Teremos uma oferta que será multiplicada por três nos próximos anos."

Na opinião dele, com a sobra de combustível, a Petrobrás terá de buscar novos mercados para escoar a produção, seja na indústria, no transporte ou na exportação. O problema é que até agora o governo federal não deu nenhum sinal do que vai fazer. "Precisamos de uma política de gás natural no Brasil, que mostre qual será a participação do produto na matriz energética e onde ele será usado", diz Tavares.

Ele avalia que não há motivos para o preço do produto continuar em nível elevado como o atual. "Com o excedente de gás no Brasil e no exterior - como já está ocorrendo - há espaço para o valor do produto cair algo em torno de 30%." Segundo Tavares, essa redução poderia ocorrer já a partir do ano que vem, quando a Petrobrás fará uma renegociação de contratos com as distribuidoras.

"Na lógica, uma oferta acima da demanda significaria queda nos preços. Mas até agora não temos nenhuma sinalização de que isso vai ocorrer de fato", diz o coordenador da Comissão de Energia da Associação Brasileira do Alumínio (Abal), Eduardo Spalding. Ele conta que é muito difícil explicar a situação para acionistas estrangeiros. "Eles não conseguem entender."

Falta de estímulo. Uma sinalização do que pode ocorrer foi dada semana passada pelo secretário de Petróleo, Gás Natural e Combustíveis Renováveis do Ministério de Minas e Energia, Marco Antônio Martins Almeida, em entrevista concedida à Agência Estado. Na entrevista, ele afirmou que os preços do gás no Brasil já estão alinhados com o mercado internacional e que uma redução mais forte poderá desestimular a produção do insumo.

Ele reconheceu que o atual preço pode comprometer a competitividade, por exemplo, de uma empresa de vidro, mas que o governo não pode desequilibrar todo o mercado por causa de um setor.

A realidade, no entanto, tem mostrado que não é apenas um segmento da economia que tem sido prejudicado pela alta do insumo. No ano passado, por exemplo, a GPC Química teve de parar durante seis meses por causa do preço do gás natural, que representa 85% do custo de produção. "Tivemos de suspender 100 contratos de trabalho, perdemos clientes e credibilidade no mercado", diz o presidente da empresa, Wanderlei Passarella.

Leilão. Passarella explica que só voltou a funcionar porque a Petrobrás abriu a possibilidade de comprar gás natural, mais barato, em leilão. Outras empresas também têm aproveitado essa oportunidade.

Mas o volume é baixo - apenas o que não é usado pelas termoelétricas - e o contrato é de curto prazo, de seis meses. "Não há segurança de abastecimento no longo prazo. O ideal seria ter uma política para o insumo", diz o presidente da GPC.

Para o superintendente da Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimento (Anfacer), Antônio Carlos Kieling, o Brasil precisa repensar sua competitividade. "Não é só o gás natural. É a energia elétrica, o câmbio, a infraestrutura. Tudo é muito ineficiente. Não podemos nos transformar em depósito de produto importado."