Título: Prestigiado, Mantega viaja ao lado de Dilma
Autor: Costa, Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/11/2010, Nacional, p. A4

Na primeira etapa do voo, no entanto, os dois quase não conversaram porque na poltrona ao lado havia uma jornalista

Já no processo de escolha de sua equipe econômica, a presidente eleita, Dilma Rousseff, aproveitou a viagem a Seul para dar uma mostra de que o ministro da Fazenda Guido Mantega está muito prestigiado e poderá permanecer no cargo, como quer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mantega foi o único ministro da atual equipe a acompanhar Dilma nos dois trechos da viagem de São Paulo a Seul, e com ela permaneceu por mais de 24 horas, trocando ideias e confidências - se bem que interrompidas durante um certo tempo - sobre o atual governo e sobre o próximo. No primeiro trecho da viagem, de São Paulo a Frankfurt, Dilma e Mantega reservaram dois dos quatro lugares da primeira classe. Seria a oportunidade para conversar o mais longamente possível sobre o futuro do governo e a reunião do G-20, que ocorre em Seul. Só que tiveram uma surpresa. Ao chegarem à primeira classe, encontraram um dos lugares ocupado por uma jornalista. Dilma reclamou: "Aqui é um lugar privado". Mas não havia o que fazer. Ela e Mantega ficaram posicionados do lado esquerdo, a repórter do lado direito. Entre eles ficou uma poltrona vazia. Mas, sem privacidade, Dilma preferiu dormir.

Assim que chegou à primeira classe, e que se viu sem a privacidade que pretendia ter, Dilma aconselhou os repórteres a tomarem um comprimido para dormir, porque a viagem seria longa. Depois, falou de seu medo de avião. E lamentou não ter ao lado o presidente do PT, José Eduardo Dutra, que na campanha cantava músicas de sucesso para ela, o que a fazia relaxar.

"O Dutra é um grande cantor", disse a presidente eleita, lembrando que ele interpretara para ela de Cartola a Jerry Adriani. O próprio Dutra havia contado aos jornalistas que cantava para Dilma músicas de Noel Rosa, Clara Nunes, Elizeth Cardoso, Maria Bethânia, Mário Reis e outros. Foi então sugerido a Mantega que assumisse o papel de cantor para relaxar a presidente eleita.

O ministro, que em outros tempos foi o organizador do livro libertário Sexo e Poder, pediu desculpas. "Eu não tenho esse dom". Em 1979, quando o PT ainda era um projeto de partido, Mantega coordenou, fez a introdução e escreveu o capítulo inicial de Sexo e Poder.

Dilma, que visivelmente havia engordado durante a campanha, mostrou que está cuidando da saúde e fazendo severa dieta. Recusou todas as champanhes e outras bebidas nobres oferecidas a ela. Preferiu água. E, quando perguntada se para o jantar queria filé de namorado, de frango ou de carne, preferiu três frutas: kiwi, uvas e melão. Mantega tomou sopa de espinafre.

Ao chegar a Frankfurt, Dilma lamentou o fato de não ter podido conversar mais sobre economia com Mantega. Mas, na segunda fase da viagem, de Frankfurt a Seul, os dois puderam ficar sozinhos para as confabulações futuras e a montagem da equipe de governo.

Na cidade alemã, Dilma entrou numa loja onde comprou por 85 um bonequinho de um soldado alemão. Pagou com dinheiro da própria carteira.