Título: Incertezas inflacionárias
Autor: Farid, Jacqueline
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/11/2010, Economia, p. B4

A inflação ao consumidor voltou a superar a marca de 5% ao ano, após a trégua do 3° trimestre. Tanto agora como antes, os movimentos surpreenderam. Se a trajetória dos preços tornou-se menos previsível, ficou mais fácil apontar incertezas que a cercam. Para simplificar, podemos enumerar 4 fatores: pressão dos alimentos, duelo commodities x câmbio, o grau de aquecimento da economia e possíveis mudanças na política econômica. O balanço se mostra ligeiramente inflacionário.

A alta dos alimentos nos dois últimos meses resulta de retrações na oferta, por razões sazonais e também pela ação de choques climáticos. E a arroba do boi retoma o sentido ascendente, assim como a soja. Seriam sinais de uma nova rodada de pressões inflacionárias vindas do campo. Estas e outras altas poderiam ser alavancadas adicionalmente pelo interesse de investidores. Isso nos remete ao próximo fator de incerteza: a queda de braço entre as commodities e a taxa de câmbio.

A recente desvalorização do dólar está em grande medida associada ao afrouxamento monetário americano. Com juros baixos em quase todas as partes do mundo, investidores dirigem recursos à compra de commodities, não apenas agrícolas. Entra então em cena o câmbio, atenuando essas pressões ao valorizar-se. Pressões de custos são repassadas aos preços finais com maior desenvoltura em ambiente de aquecimento econômico. Aqui também há indicações divergentes. Seja pelo aumento das importações ou por maturação de investimentos, o nível de uso da capacidade instalada na indústria estabilizou-se em 85%, proporção que se não é baixa, não está na zona de risco inflacionário iminente.

Por fim, contribuindo para a nebulosidade do cenário, a sucessão presidencial está sendo entendida como possível alteração de curso da política macroeconômica. Pelo menos é o que o noticiário sugere ao mencionar intenções de mudanças no Banco Central e pouca assertividade no que diz respeito a controle de gastos públicos.

COORDENADOR DO ÍNDICE GERAL DE PREÇOS - IBRE/FGV