Título: Inflação acelera e chega a 0,75% em outubro
Autor: Farid, Jacqueline
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/11/2010, Economia, p. B4

Inflação oficial foi a maior para meses de outubro em oito anos; no acumulado do ano, chegou a 4,38% e encostou no centro da meta A inflação oficial acelerou fortemente em outubro, pressionada pela escalada nos preços dos produtos alimentícios. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu para 0,75% no mês, a maior taxa para meses de outubro apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) em oito anos.

No acumulado do ano, o índice já atingiu 4,38% e encostou no centro da meta (4,5%) estabelecida pelo Banco Central, além de ultrapassar o resultado de todo o ano passado (4,31%).

Os alimentos, que iniciaram o ano com taxas elevadas, chegaram a apresentar deflação entre junho e agosto, mas reverteram drasticamente o sinal a partir de setembro. A coordenadora de índices de preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, destacou que a alta de 1,89% nesse grupo de produtos em outubro também é a maior para o mês desde 2002. "Este ano, o perfil da inflação acompanha de perto a trajetória dos alimentos."

Segundo ela, com a alta acumulada de 6,59% de janeiro a outubro, a variação dos alimentos supera de longe o aumento de janeiro a outubro do ano passado (2,33%). Especificamente em outubro, a alta de nesse grupo de produtos é não apenas a maior apurada mensalmente pelo IBGE desde 2002, mas também a maior taxa mensal desde junho de 2008 (2,11%).

Para Eulina, os reajustes nos alimentos estão sendo influenciados, sobretudo, pelo aumento nos preços das commodities em escala internacional, por causa da redução de oferta de alguns produtos, por causa de problemas climáticos em alguns países produtores. Ela citou o caso do trigo, cujos preços foram impulsionados pela quebra de safra na Rússia.

No caso do feijão carioca, ela aponta uma redução de área plantada no Brasil, por causa de desestímulo dos produtores com preços deprimidos no ano passado, além da seca em algumas regiões onde há cultivo desse produto. Já rem relação às carnes, ela cita a conjunção entre aumento da demanda externa e interna, além da entressafra e problemas no clima.

Um grupo de apenas 26 itens pesquisados são responsáveis por quase 80% do IPCA acumulado em 2010. Entre eles, estão alimentos como carnes (14,56%), refeição fora de casa (6,97%), feijão carioca (109,78%), leite pasteurizado (15,21%) e pão francês (6,75%).

Analistas receberam com preocupação o resultado divulgado ontem pelo IBGE. O IPCA de outubro veio no teto das estimativas de economistas. Segundo levantamento da Agência Estado, as estimativas variavam de 0,58% a 0,75%.

A economista Tatiana Pinheiro, do banco Santander, ressaltou a "significativa aceleração" na taxa da inflação oficial de setembro para outubro. Ela observou que, a despeito da forte influência dos alimentos no índice, outros itens também mostraram altas, como vestuário (0,89%), refletindo efeitos do aquecimento da demanda doméstico sobre os preços.

Gian Barbosa, economista da Tendências Consultoria, frisou que a variação em 12 meses dos preços dos serviços saltou de 6,89% em setembro para 7,17% em outubro. "Se continuar ruim em 2011, a inflação ficará mais sensível a eventuais choques desfavoráveis, como o da alta dos alimentos em 2010." / COLABOROU FLAVIO LEONEL