Título: Resultado depende da queda dos juros
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/11/2010, Economia, p. B1

Medidas regulatórias são importantes, mas insuficientes para destravar o financiamento de longo prazo no Brasil. Segundo especialistas, esse tipo de crédito só vai realmente deslanchar quando a taxa básica de juros cair para níveis compatíveis com os do resto do mundo. Hoje em 10,75%, a Selic lidera o ranking global de juros.

"Há um consenso de que, sem uma queda dos juros, de certa maneira, é dar murro em ponta de faca", afirma o empresário Josué Gomes da Silva, presidente da Coteminas e um dos principais colaboradores do Instituto Talento Brasil.

Ao lado do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a entidade preparou o documento "Financiamento voluntário de longo prazo no Brasil - análise e recomendações". O texto deve servir de base para o pacote que o governo anunciará para estimular o financiamento de longo prazo.

Gomes da Silva, no entanto, poupa o Banco Central (BC) de críticas. Para ele, o governo precisa criar condições para que o País tenha um juro básico estruturalmente mais baixo, o que passa por uma política fiscal mais apertada.

A equipe da presidente eleita, Dilma Rousseff, tem sinalizado a intenção de reduzir a relação entre dívida líquida e Produto Interno Bruto (PIB) dos atuais 41% para 30% em 2014. Isso, em tese, abre espaço para um juro menor.

O professor da PUC-SP Antônio Corrêa de Lacerda chama a atenção para mais um fator que limita a concessão de financiamentos de longo prazo no País: a existência das Letras Financeiras do Tesouro (LFTs).

"LFT é um outro nome para o overnight", afirma. Esses papéis, lembra Lacerda, têm liquidez diária, pagam a taxa Selic e, como são emitidos pelo governo, têm risco zero de calote. "O prêmio para ficar no curto prazo no Brasil é enorme."

Resultado limitado

JOSUÉ GOMES DA SILVA PRESIDENTE DA COTEMINAS "Há um consenso de que, sem queda dos juros, de certa maneira, é dar murro em ponta de faca."

ANTÔNIO CORRÊA DE LACERDA PROFESSOR DA PUC "O prêmio para ficar no curto prazo no Brasil é enorme."