Título: Maioria republicana na Câmara deve frear ímpeto das reformas de Obama
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/11/2010, Internacional, p. A19

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, se verá em difícil situação para seguir com sua agenda de "mudança" a partir de janeiro, quando tomarão posse os 435 novos deputados e 33 senadores eleitos ontem. A nova composição do Congresso deve dificultar a tramitação de projetos da Casa Branca e tornar a agenda interna e externa do país mais conservadora, iniciando um período de intenso conflito entre republicanos e o governo.

Dan Powers/APDecisão. Americano orienta eleitores em Wisconsin; equipe de Obama já se prepara para lidar com Congresso inamistoso A reconquista da maior parte das cadeiras da Câmara dos Representantes pelo Partido Republicano e a redução da maioria democrata no Senado devem ser confirmadas hoje. Os resultados começavam a ser apurados na Costa Leste - ontem à noite, no horário de Brasília. As urnas da Costa Oeste, do Alasca e do Havaí ainda estavam abertas. O instituto independente The Cook Political Report estimava que 50 a 60 cadeiras da Câmara passariam do controle democrata para o republicano.

Segundo Robert Pastor, diretor do Centro para Democracia e Administração Eleitoral da American University, por mais que o presidente Obama mostre-se aberto ao diálogo com a oposição sobre suas futuras iniciativas, o Partido Republicano se mostrará inflexível. Esse comportamento foi observado nos 22 meses de gestão de Obama.

Os projetos ambiciosos da Casa Branca, como as reformas dos planos de saúde e do sistema financeiro, o pacote econômico de US$ 700 bilhões e a ajuda a bancos e grandes empresas, somente foram aprovados porque os democratas detinham a maioria nas duas Casas nesse período. Ainda assim, foi necessário um tremendo esforço de negociação com a base.

Agora, o Partido Republicano terá o controle da Câmara e contará com representantes radicais do movimento Tea Party em sua bancada. Essa facção de ultradireita tende a se rebelar contra posições moderadas dos republicanos. Como uma primeira iniciativa para impedir a rebelião interna, o partido anunciará amanhã a criação de um Comitê de Transição.

A Câmara deverá ser presidida, a partir de janeiro, pelo deputado republicano John Boehner, de Ohio. Sua agenda trará como principal desafio o bloqueio à política da Casa Branca de fomento da economia a partir de dedução de impostos para a classe média e a pequena e média empresas. Boehner insistirá no corte de gastos públicos como meio de reduzir o déficit fiscal, de US$ 1,3 trilhão, o equivalente a 10% do Produto Interno Bruto (PIB) americano.

O inevitável ambiente de maior conflito no Congresso americano já está sendo digerido pela equipe de Obama, segundo uma fonte do governo afirmou ao Estado. Os próprios eleitores, ao concederem maior força aos republicanos no Congresso, deixaram claro sua insatisfação com o governo - seja por ter ido longe demais em tópicos como os planos de saúde ou por ter sido pouco eficiente na condução da recuperação econômica.

Diante do novo cenário político, líderes do Partido Democrata já sugeriram a Obama uma mudança em sua equipe de colaboradores mais próximos e uma revisão em sua agenda. "O controle republicano na Câmara dos Deputados terá impacto na capacidade de liderança da Casa Branca no país", resumiu Pastor. "Terá início um período de maior confrontação entre os partidos, tendo como pano de fundo a eleição presidencial de 2012", completou.

Retrocesso. O principal temor da Casa Branca, neste momento, está na possibilidade de reversão de reformas já aprovadas pelo Congresso neste ano. Entre elas, a do sistema de saúde, uma das principais promessas de "mudança" da campanha de Obama em 2008. Também há preocupação com políticas já traçadas pelo governo, mas ainda não postas em prática.

PARA ENTENDER Congresso e Estados estão em jogo

Além de renovar a Câmara de Representantes e eleger um terço do Senado (37 das 100 vagas), os americanos de 37 Estados e territórios escolherão novos governadores. Outras 160 propostas foram votadas em referendos estaduais ou municipais, como a legalização da maconha na Califórnia. As pesquisas de intenção de voto indicam que os republicanos conseguirão vitória na maioria dos governos estaduais e terá a maioria na Câmara. Os democratas lutam para manter a maioria no Senado, que controla políticas comerciais, de exterior e defesa.