Título: Emissões por combustíveis fósseis aumentam 39% em 18 anos no Estado
Autor: Balazina, Afra
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/11/2010, Vida, p. A23

Legislação paulista definiu como meta cortar 20% dos lançamentos de gases de efeito estufa até 2020, em relação a 2005

As emissões de gases de efeito estufa no Estado derivadas da queima de combustíveis fósseis, como o diesel e a gasolina, cresceram 39% entre 1990 e 2008 ¿ passaram de 56,9 milhões de toneladas para 79,2 milhões de toneladas.

Daniel Teixeira/AEEletricidade, biocombustíveis e veículos sobre trilhos deveriam ser favorecidos, diz especialistaOs dados estão em relatório que vai compor o inventário estadual de gases-estufa, a ser divulgado no dia 25 deste mês. No total, serão cerca de 20 relatórios de diferentes setores da economia. A legislação paulista definiu uma meta de cortar 20% das emissões até 2020, em relação a 2005. Então, para cumprir o objetivo, o São Paulo precisa saber exatamente quanto emite e avaliar em que setores da economia pode reduzir.

Segundo o relatório, os derivados do petróleo representam o maior consumo de energia do Estado. E o diesel é o que tem maior destaque. De acordo com o documento oficial, a contribuição do diesel no consumo de energia de São Paulo sempre fica próximo dos ¿15% do total de todas as fontes utilizadas para fins energéticos¿.

No inventário brasileiro é o desmatamento o maior culpado pelas emissões. Mas, segundo Josilene Ferrer, secretária executiva do Programa Estadual de Mudanças Climáticas (Proclima), a energia é o principal vilão em São Paulo. ¿O aumento das emissões nesse setor é natural. A população cresceu e houve um aquecimento da economia.¿

Apesar de as emissões de gases-estufa terem aumentado no Estado, os combustíveis fósseis tiveram uma participação ligeiramente decrescente na oferta bruta total de energia ¿ ela variou de 53% em 1990 para 45,5% em 2008. Isso sinaliza ¿um maior uso de combustíveis não intensivos em carbono (como o gás natural) e o aumento da participação das fontes renováveis (biomassa) no sistema energético paulista¿.

O gás natural substituiu em muitos casos o óleo combustível em caldeiras e fornos industriais ¿ a participação desse óleo caiu de 11,8% a 2,1% no período avaliado ¿, o que é positivo para as emissões. Mas a mudança se deve principalmente à substituição de combustíveis fósseis por derivados da cana-de-açúcar. Hoje, o bagaço da cana é usado para produzir energia e há um aumento crescente do consumo de etanol nos carros.

¿Como o Estado possui a maior frota de automóveis do Brasil, com uma marca superior a 8 milhões de veículos em 2008 ¿ o que representa 36,8% de toda a frota brasileira ¿ e os automóveis e comerciais leves do tipo flex fuel atingiram 74,7% da produção total, espera-se que o consumo de etanol apresente taxas de crescimento maiores nos próximos anos¿, diz o texto.

Diesel. Tasso Azevedo, engenheiro florestal que ajudou a formular as metas de clima que o Brasil levou para a Conferência do Clima de Copenhague, no ano passado, analisou o relatório a pedido do Estado. Para ele, chama a atenção o fato de o consumo de combustíveis fósseis ter tido um grande crescimento na década de 1990, mas desacelerado na década de 2000.

Em sua opinião, para São Paulo atingir a meta de redução das emissões, ¿um foco central será lidar com o consumo de diesel, que continua aumentando e é a principal fonte de emissões¿. ¿Isso requer uma remodelagem do sistema de transporte, favorecendo trilhos, melhorando fluxos, utilizando eletricidade e biocombustíveis¿, diz ele.

Nicole Figueiredo de Oliveira, coordenadora da campanha de clima do Greenpeace, ressalta que, além de usar menos o diesel, é preciso melhorar a qualidade do combustível ¿ que ainda contém muito enxofre, prejudicando a qualidade do ar e a saúde da população.

Guarany Osório, consultor especializado em ciências jurídico-ambientais, lembra que o Estado quase não usa energia solar ¿ setor que poderia crescer e, com isso, promover uma redução das emissões. E diz que o Estado pode incentivar uma redução das emissões se optar nas compras públicas por produtos de menor intensidade de carbono ¿ como os carros a etanol.