Título: Obama dá apoio à pretensão indiana de se tornar membro de conselho da ONU
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/11/2010, Internacional, p. A14

Em discurso durante visita à Índia, líder americano diz que EUA apoiam uma reforma da principal instância executiva das Nações Unidas que inclua um assento permanente para Nova Délhi; Brasil também é aspirante a uma vaga perene no organismo

O presidente dos EUA, Barack Obama, declarou ontem seu apoio à ambição indiana de ascender ao Conselho de Segurança das Nações Unidas como membro permanente. O gesto político, sem implicações imediatas nas negociações sobre a reforma dessa instância de poder, teve um alvo direto, a China. E outro colateral, o Brasil.

"A ordem internacional justa e sustentável que os EUA perseguem inclui uma ONU eficiente, efetiva, crível e legítima. Por isso, eu posso dizer hoje (que), nos próximos anos, eu anseio uma reforma do Conselho de Segurança da ONU que inclua a Índia como membro permanente", afirmou Obama em discurso no Parlamento indiano. O líder americano, porém, não mencionou se era favorável ou não à concessão do poder de veto aos eventuais novos membros do CS. Nos últimos anos, Washington tem acenado com a ampliação dos membros permanentes do conselho, desde que os novos integrantes não tenham direito de veto.

A Casa Branca escolheu com cuidado o momento desse raro anúncio, anteriormente dedicado apenas à Alemanha, nos anos 90, e ao Japão, em 2005. O apoio americano à pretensão indiana se dá em meio a uma viagem presidencial de dez dias à Ásia, cujo roteiro incluiu apenas democracias. Obama embarca amanhã para a Indonésia. Seguirá para a Coreia do Sul e o Japão. Embora a China não tenha sido incluída na agenda, Obama se encontrará com o presidente chinês, Hu Jintao, em duas reuniões de cúpula, a do grupo das maiores economias (G-20) e da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico.

Segundo Richard Fontaine, do Centro para uma Nova Segurança Americana, o anúncio marcou o "reconhecimento político da Índia como potência mundial". Esse ato mostrou especialmente o interesse de Washington em cultivar uma relação mais profunda com a maior democracia do mundo, um país que igualmente tem sido relevante nas negociações sobre mudança climática, nas operações de paz da ONU, nas ameaças à segurança vindas do Afeganistão e do Paquistão e, sobretudo, no reequilíbrio do poder da China. "Na Ásia e em todo o mundo, a Índia não é simplesmente um país emergente. A Índia já emergiu", afirmou Obama.

Em recente análise, Eswar Prasad e Karim Foda, do Brookings Institution, assinalaram o interesse dos EUA em um papel mais "agressivo" da Índia em uma série de debates de política internacional, como contrapeso à posição da China.

O apoio americano ao acesso da Índia ao CS se dá num momento de desgaste nas relações dos EUA com o Brasil, outro pretendente ao posto. "A Índia é um país estratégico para os EUA, no conceito de segurança e é um contraponto à China", afirmou Peter Hakim, presidente do Diálogo Interamericano. "O Brasil é importante. Mas não é crucial do ponto de vista da segurança nem tem como ser um contrapeso ao avanço chinês.

PONTOS-CHAVE

Conselho de Segurança É o principal organismo da ONU. Formado por 15 países (5 permanentes e 10 rotativos), discute questões mundiais de paz e ordem e sua decisão não pode ser contestada

Como funciona São necessários nove votos para a aprovação de uma resolução, sem nenhum veto dos cinco países permanentes. O grupo vota sanções, envio de tropas e abertura de investigações

Integrantes EUA, Grã-Bretanha, França, China e Rússia são fixos e têm poder de veto. Entre os rotativos estão Brasil, Japão, México, Turquia, Áustria, Nigéria, Gabão, Líbano, Uganda e Bósnia

Aspirantes Países exigem a reforma do Conselho, para adaptá-lo à nova realidade política global. Brasil, Índia, Japão, Alemanha, África do Sul brigam por uma vaga