Título: Analistas e BC apontam cenários divergentes na questão fiscal
Autor: Tereza, Irany ; Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/11/2010, Economia, p. B1

Ao contrário do que prega a direção da instituição, mercado aposta que gasto público vai crescer em 2011

O Banco Central anda preocupado com as previsões do mercado. Isso porque analistas têm projetado cenários cada vez mais distintos entre si e também quando comparados com o quadro previsto pelo BC. O tema levou a instituição a realizar pesquisa para entender como pensam os economistas. O estudo divulgado ontem indica que a principal causa dessa leitura diferenciada é a questão fiscal. Enquanto o BC prevê que os gastos públicos devem ser mais contidos no próximo ano, o mercado espera que o governo continue perdulário.

As previsões do mercado apresentavam um comportamento relativamente convergente até o fim de 2008. Após o estouro da crise, as estimativas começaram a variar muito e a dispersão das expectativas aumentou rapidamente no início do ano passado. O fato revela dificuldade dos economistas em ler e projetar o quadro econômico que está por vir.

Preocupação. Isso acendeu a luz amarela no BC. No regime de metas de inflação, uma das principais atribuições da autoridade monetária é "ancorar" as expectativas do mercado - ou seja, convergir previsões dos economistas ao mesmo tempo em que torna as decisões do BC mais previsíveis. O problema é que a crise parece ter "desregulado" a leitura dos analistas.

O auge dessa percepção divergente aconteceu no meio do ano, quando o mercado acreditava que era necessário subir o juro em ritmo mais forte que o realizado pelo BC. Ou seja, o Comitê de Política Monetária via cenário mais ameno que o mercado.

Para entender essa leitura diferente, o BC distribuiu duas pesquisas aos analistas ouvidos na pesquisa Focus. Diante das respostas, prevaleceu o entendimento de que uma das principais razões para a diferença de leitura está nas "hipóteses de trabalho", especialmente da questão fiscal.

Enquanto o BC trabalha com a previsão de que o Brasil vai cumprir a meta cheia de superávit primário de 3,3% do PIB em 2011, boa parte do mercado aposta que o esforço fiscal será menor. Entre analistas, continua a expectativa de que o governo vai continuar com gastos em alta e poderá abater investimentos ou fazer novas manobras contábeis como a que ajudou a aumentar o capital do BNDES.

Focus. Com a leitura mais pessimista, o mercado aumentou pela oitava vez seguida a previsão para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2010, para 5,31%. Para 2011, a expectativa está em 4,99%. O mercado aposta que a inflação ascendente deve obrigar o BC a aumentar o juro em 1 ponto porcentual a partir de abril do próximo ano.