Título: Para Lula, G-20 precisa recuperar solidariedade
Autor: Domingos, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/11/2010, Economia, p. B1
Presidente diz que o G-20 não é "cada um por si e Deus por todos". "É todos por todos e Deus por todos"
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem aos líderes do G-20 que eles precisam "recuperar o espírito de cooperação e solidariedade" que existia em sua primeira reunião, há dois anos, em um reconhecimento tácito de que as divergências internas ameaçam a coesão do grupo.
"Quando nos reunimos há dois anos em Washington, enfrentávamos a maior crise do capitalismo desde 1929. Naquela ocasião, transmitimos ao mundo determinação e firmeza. Precisamos recuperar o espírito de cooperação e solidariedade daquele G-20", declarou o brasileiro no discurso durante o jantar com presidentes e primeiros-ministros do grupo em Seul.
Lula propôs que os líderes das 20 maiores economias priorizem o debate da guerra cambial, que se manifesta numa corrida de desvalorizações de moedas por países que tentam estimular seu crescimento pela ampliação de sua fatia no comércio mundial. "Essa guerra exacerbará a crise sem produzir vencedores. Só haverá perdedores", disse Lula, que se sentou ao lado do presidente da China, Hu Jintao.
"O G-20 não é para cada um se salvar, cada um por si e Deus por todos. É todos por todos e Deus por todos. Somente assim é que vai dar certo", acrescentou.
Sem citar a política de expansão monetária dos Estados Unidos, o brasileiro ressaltou que os países emergentes, "ameaçados pelo fluxo de capital especulativo e pela valorização de suas moedas, são obrigados a adotar medidas defensivas".
Na negociação que antecedeu ao encontro de líderes, o Brasil pressionou para que o comunicado que será assinado hoje contemple a restrição da entrada de recursos externos por países que sofrem valorizações excessivas de suas moedas - um eufemismo para controle de capitais.
No discurso, o presidente ressaltou que o real se valorizou 80% em relação às moedas de seus principais parceiros comerciais e defendeu regimes cambiais flexíveis, que reflitam os fundamentos da economia.
Dilma Rousseff acompanhou Lula no jantar, que foi o seu primeiro compromisso internacional na condição de presidente eleita.