Título: Geithner reage a críticas de Mantega
Autor: Domingos, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/11/2010, Economia, p. B1
Secretário do Tesouro se irrita com acusações aos EUA durante jantar com ministros do G-20
O conflito em torno da agressiva política americana de expansão monetária veio à tona de forma explícita durante o jantar de ministros das Finanças ontem, na cúpula do G-20 de Seul. O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, reagiu com irritação às reclamações de outros ministros contra a injeção de US$ 600 bilhões na economia. O detalhe é que uma das críticas mais contundentes partiu do ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, durante seu pronunciamento no encontro.
Segundo duas fontes ouvidas pelo Estado, Geithner subiu o tom ao responder às acusações de que a enxurrada de dólares terá efeitos negativos sobre o restante do mundo, principalmente pela valorização das moedas dos países emergentes. Na noite anterior, Mantega havia afirmado que a expansão monetária não leva em conta a responsabilidade dos EUA de emissor de uma moeda utilizada como reserva de valor por todo o mundo.
A irritação de Geithner e a reiteração dos ataques aos EUA ontem evidenciaram as divergências. Hoje presidentes e primeiros-ministros se reunirão para aprovar o comunicado final do encontro e aprovar um Plano de Ação, que apresentará o que cada país está fazendo para estimular o crescimento nessa etapa de saída da crise global.
O comunicado deverá avançar em relação ao acordo fechado no mês passado pelos ministros de Finanças, também em Seul, mas as divergências na elaboração do texto continuavam na noite de ontem. EUA e China travavam uma queda de braço em torno da avaliação das políticas macroeconômicas de cada um dos integrantes do G-20, cujo objetivo é identificar as causas dos desequilíbrios globais e as razões que impedem sua correção.
Enquanto os americanos pretendem lançar mão do mecanismo o mais rápido possível, os chineses preferem um prazo mais longo. Os dois países são os protagonistas do desequilíbrio que esteve na origem da crise mundial: o excesso de superávit na China e de déficit nos EUA em suas relações com o resto do mundo.
A fórmula da análise das políticas macroeconômicas de cada país e a avaliação de sua consistência com a redução dos desequilíbrios foi a saída encontrada para acomodar a proposta americana de limitar em 4% do PIB os superávits e déficits nas transações em conta corrente.
A meta numérica foi rejeitada pelos ministros, mas eles concordaram na criação do sistema de análise dos desequilíbrios, que será feita com base em "diretrizes indicativas a serem acordadas". A definição de quais serão os parâmetros também continuava a causar divergência.
Outro ponto em relação ao qual não havia consenso era a substituição da expressão "desvalorizações competitivas" de moedas por "subvalorizações competitivas", troca que tem como alvo a China. Isso porque a China não está desvalorizando a sua moeda, mas sim vem mantendo-a num nível subvalorizado.