Título: As medidas para conter a valorização e seus efeitos
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/11/2010, Economia, p. B2

Com um dólar que se desvaloriza em relação às outras moedas, as medidas para conter a excessiva valorização do real tiveram efeito que se pode considerar decepcionante na contenção do crescimento das importações, que geram um processo de desindustrialização. Em compensação, contribuem para dificultar o financiamento do déficit das transações correntes do balanço de pagamentos. Foi importante a entrada de capitais externos na Bovespa para sustentar as cotações das ações de empresas brasileiras. No entanto, foi suficiente impor um Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 2% para brecar essa entrada de capital. Sem considerar as ofertas iniciais (IPO), o saldo do capital externo na Bolsa, que havia sido positivo em R$ 20,596 bilhões no ano passado, foi de apenas R$ 4,831 bilhões até 4 de novembro deste ano. O mercado de derivativos foi diretamente afetado, em favor do mercado de balcão norte-americano. São recursos que vão fazer falta para cobrir o déficit das transações correntes.

Por isso a BM&F está propondo algumas modificações para as operações com derivativos e opções que o governo teria interesse em examinar para não fechar demais essas operações que não se traduzem por pressão sobre a taxa cambial. As necessidades de captar recursos para cobrir o déficit nominal do Tesouro estão crescendo. O governo se vangloriava dos recursos que captava no mercado direto ou com as Notas Financeiras (NTFs) de longo prazo, esquecendo-se de que isso se devia apena aos altos rendimentos oferecidos aos investidores.

Com a taxação do IOF, o Tesouro teve de reduzir essas emissões, especialmente de longo prazo, que não mais interessam aos investidores estrangeiros, a não ser que se ofereça remuneração muito alta, que o Tesouro recusa. Mesmo os papéis de prazo menor só são colocados se o Tesouro oferece um juro mais alto e uma indexação considerada razoável: são as NTBs indexadas ao IPCA, que os investidores estrangeiros consideram que terão um aumento nos próximos anos. Com juros em torno de 5,9% ao ano, ante um juro quase nulo nos EUA, esses papéis são atraentes mesmo descontando o IOF.

Nesse quadro podemos pensar que os investidores nacionais vão exigir também juros mais altos. Isso contradiz as declarações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que está prevendo que os gastos com juros diminuirão em 2011. Ao contrário, eles contribuirão para aumentar o déficit das transações correntes, enquanto as entradas de capitais externos para cobri-lo diminuirão.