Título: Ajuda ao Panamericano provoca dúvidas
Autor: Ribeiro, Marili ; Cançado, Patrícia
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/11/2010, Economia, p. B4

Uso de recursos do FGC levanta questionamentos sobre o motivo de o BC não ter feito uma intervenção em um banco em dificuldades

A operação de socorro ao Banco Panamericano deixou uma dúvida no ar: a decisão de não intervir no banco de Silvio Santos teria sido pautada por interesse político? Segundo uma fonte do BC, o governo Lula não quer ser acusado de "ajudar banqueiros" como aconteceu com Fernando Henrique Cardoso quando o Programa de Estímulo à Reestruturação do Sistema Financeiro (Proer) foi instituído.

Por esse raciocínio, em vez de agir diretamente desta vez, o BC teria pressionado os bancos, donos do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) a emprestar os R$ 2,5 bilhões e salvar o Panamericano.

Um executivo que acompanhou a operação do lado dos bancos, no entanto, afirma que o sistema financeiro abriu o cofre do FGC por interesse próprio. Se houvesse intervenção ou o Panamericano quebrasse, "criaria uma onda de desconfiança que poderia levar outros bancos de pequeno e médio porte junto. O sistema agiu para preservar sua imagem", afirma esse executivo.

O custo de uma quebra, segundo ele, seria muito maior que os R$ 2,5 bilhões. Se o Panamericano fosse liquidado, o FGC precisaria colocar cerca de R$ 2,2 bilhões para cobrir todos os depósitos do banco até R$ 60 mil. Esse dinheiro dificilmente voltaria para o fundo. Já Silvio Santos recebeu um empréstimo, que terá de ser pago ao FGC.

Apesar desses argumentos, para a fonte do BC o que pesou na decisão da autoridade monetária foi um possível desgaste político que viria neste fim de mandato com o escândalo de uma intervenção.

Em 2008, durante o auge da crise mundial, o governo buscou soluções menos drásticas politicamente para socorrer instituições com problemas de liquidez. Uma opção foi editar uma medida provisória autorizando o BC a comprar diretamente carteira de crédito de bancos comerciais.

Os compulsórios foram liberados para os bancos interessados em adquirir essas carteiras. Os banqueiros, mesmo abrindo mão de ativos, não perdiam o controle da instituição.

O uso de bancos públicos para injetar liquidez no sistema financeiro foi outra estratégia. Foi o que aconteceu no caso do Banco Votorantim, que foi duramente afetado durante a crise internacional. Na época, o Banco do Brasil comprou aproximadamente 49% do Votorantim por R$ 5,5 bilhões.