Título: Mais verba e mais tempo na escola precisam gerar qualidade de ensino
Autor: Alvarez, Luciana
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/11/2010, Vida, p. A25

Inês Miskalo, coordenadora de educação formal do Instituto Ayrton Senna

O aumento de parcela do PIB investida em educação para 5% é motivo para comemorar?

O aumento sozinho não diz nada. O que é preciso discutir é seu o uso. Não estamos chegando onde outros países chegam e nossa porcentagem de investimento não é muito fora da média. É a eficiência das nossas ações que vai dizer se há motivo para comemorar.

Em que medida o Brasil é um mau gestor em educação?

Em primeiro lugar, é preciso garantir que a criança esteja na escola. Isso o Brasil está fazendo. Mas quando se analisa o resultado desses anos a mais de escolaridade, vemos que estamos atrás de muito países latino-americanos. Se não mexermos na lógica da gestão educacional não vamos conseguir, mesmo aumentando o investimento, chegar a ser um expoente. A gente gasta muito para fazer pouco, ou mal feito.

Como a má gestão atrapalha as crianças?

Quando se fala em gestão, fala-se em estabelecer prioridades, ver onde é o ponto mais frágil - que hoje é a qualidade. As crianças não estão aprendendo o que deveriam, nem no tempo que deveriam. Estamos criando uma cidadania vazia. Cidadania implica o indivíduo participar da construção social. Se ele não consegue numa sociedade letrada se comunicar por essa via, está excluído da cidadania. A escola está simplesmente pondo essa pessoa na sala, e ela fica numa espécie de buraco negro, porque não consegue alcançar patamares mais altos.

A existência de avaliações sistemáticas e o estabelecimento de metas podem ser vistos como uma evolução de gestão?

Temos algo que aponta o norte, uma bússola dizendo se estamos indo no caminho certo. Indicadores são importantes e a avaliação faz parte de um processo de gestão. Só que ela precisa ser usada para impactar os planejamentos e replanejamentos das ações educativas.

Como assim?

Desde meados do anos 90 a gente entrou no ritmo mundial de avaliações. E foi ótimos termos a humildade de entrar em processos mundiais como o Pisa, expondo ao mundo nossa fragilidade. Também desenvolvemos avaliações internas. Mas elas mostram problemas, não estamos crescendo no desempenho. O Ideb trouxe uma discussão importante, a valorização de dois vetores: desempenho e fluxo. Falta saber como vamos usar esses indicadores. Se o Ideb for analisado pelas escolas, pelas redes de ensino, ele vai descobrir se a melhora é em função de qual fator. Se estamos melhorando porque facilitamos a aprovação, e se o fluxo escolar está sendo acompanhado da aprendizagem. Se o fluxo estiver isolado, estamos no mau caminho. Porque continuamos a desenvolver menos os alunos do que eles têm capacidade.