Título: Brasil vai reclamar de medida americana durante a cúpula
Autor: Trevisan, Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/11/2010, Economia, p. B12

O resultado final da reunião do G-20 será um comunicado, que pode ter alguns anexos. Na linguagem nunca muito específica dos textos diplomáticos, o máximo que o documento provavelmente conterá em relação à "guerra cambial" será a indicação de caminhos para suavizar o confronto que advém basicamente das posturas dos Estados Unidos e da China.

No Brasil, o presidente Lula, a presidente eleita Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, já deixaram claro que o País vai reclamar de forma eloquente, durante a reunião do G-20, da recente decisão do Federal Reserve (FED, banco central americano) de comprar US$ 600 bilhões em títulos de médio e longo prazo.

O Brasil aventou uma proposta de se criar uma medida de manipulação cambial, que permitiria acionar países na Organização Mundial de Comércio (OMC). Outra ideia surgida recentemente, pouco antes da reunião ministerial do G-20, em Gyeongju, na Coreia, em 22 e 23 de outubro, por parte de Tim Geithner, secretário do Tesouro dos Estados Unidos, seria um acordo para estabelecer um limite de 4% do PIB aos superávits em conta corrente.

Nem a ideia brasileira nem a americana alcançaram popularidade entre os membros do G-20. A delegação brasileira chegará ao encontro de Seul bastante aberta a negociações, e deve cobrar dos países ricos políticas fiscais mais expansivas.

A Cúpula envolve negociações dos Chefes de Estados e de seus ministros das Finanças que começarão no dia 11, quinta-feira, em jantares de trabalho, e se encerrarão no dia 12. O texto básico, porém, já estará pronto, ou quase pronto, por meio de negociações que envolvem os vice-ministros da Fazenda e vice-ministros de Relações Exteriores.

No caso brasileiro, o embaixador Marcos Galvão, secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, e vice-ministro da Fazenda para efeitos do G-20, já começa a negociar com seus pares em Seul na segunda-feira, dia 8. Também no início da semana começa a negociar, no seu "trilho" específico, o embaixador Pedro Luiz Carneiro de Mendonça, subsecretário-geral de Assuntos Econômicos e Tecnológicos do Ministério das Relações Exteriores.

Carneiro de Mendonça, vice-ministro de Relações Exteriores, pertence à categoria dos chamados "sherpas". A expressão, cujo significado original refere-se à guias do Himalaia, é usada para designar os responsáveis pela condução da parte mais política da negociação, e também pelos temas fora da área macroeconômica e financeira, como desenvolvimento, energia, meio ambiente e trabalho.

Logo no início da semana, já há um texto elaborado pela Coreia, o país anfitrião, que será negociado na segunda e terça-feira, separadamente, pelo grupo dos vice-ministros da Fazenda e dos sherpas. O texto é um só, mas cada grupo discute os seus temas específicos.

Na quarta-feira, dia 10, há uma negociação conjunta dos dois grupos, numa fase mais conclusiva. As discussões podem entrar madrugada adentro. Os chefes de Estado se reúnem no dia 11, e têm um jantar de trabalho. Sherpas e vices da Fazenda têm um jantar paralelo. A negociação continua, supostamente em cima de apenas poucos pontos cruciais, já que o grosso do comunicado deve estar pronto. No dia 11, de encerramento do encontro, reúnem-se chefes de Estado, ministros da Fazenda, vice-ministros da Fazenda e sherpas, e o comunicado final é divulgado.

Na parte econômica e financeira, a principal do encontro, duas áreas já estão bem aplainadas e a cúpula de Seul provavelmente servirá mais para que os líderes referendem decisões: a fiscalização e supervisão bancária, com a conclusão do Acordo de Basileia 3; e a reforma das instituições financeiras internacionais, com a redistribuição de cotas do Fundo Monetário Internacional (FMI), que colocou os quatro Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) entre os dez maiores cotistas.

Na chamada área de "diálogo e cooperação macroeconômica", porém, é que haverá a discussão sobre a guerra cambial. E aí, tudo pode acontecer, inclusive nada - o que será uma grande decepção para a economia global.