Título: Cúpula selará aproximação com Moscou
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/11/2010, Internacional, p. A10

Presente no encontro em Lisboa, Medvedev negociará escudo antimíssil unificado e apoio contra o Taleban

A cúpula da Otan em Lisboa, no sábado, buscará superar décadas de desconfiança russa em relação à aliança ocidental. Juntamente com Moscou, a organização lançará uma iniciativa para unificar os sistemas antimísseis dos dois lados e estreitar a parceria no Afeganistão. O próprio presidente russo, Dmitri Medvedev, participará dos debates em Portugal, em um forte sinal de distensão. Um acordo sobre um sistema antimísseis unificado enterraria de vez as suspeitas de Moscou em relação ao antigo projeto americano de instalar um escudo antibalístico no Leste Europeu. Prometendo "reiniciar" a relação com a Rússia, o presidente Barack Obama já havia praticamente descartado a possibilidade de um escudo unilateral, como queria seu antecessor, George W. Bush. O secretário-geral da Otan, o dinamarquês Anders Fogh Rasmussen, afirmou que a aliança atlântica e o Kremlin lançarão um estudo conjunto sobre como instalar uma defesa comum antimísseis. "Isso demonstra claramente que nosso sistema não está dirigido contra a Rússia", sublinhou Rasmussen.

Para o dinamarquês, a cúpula de Lisboa representará "um novo ponto de partida nas relações entre Rússia e Otan", e terá "uma importância estratégica enorme". "Se a Rússia está ameaçada, a ameaça vem de outros lugares do mundo", completou.

Corredor russo. Outro ponto que poderá aproximar russos e os 28 países da Otan é a difícil campanha da aliança contra o Taleban no Afeganistão. Espera-se que o Kremlin dê seu aval na cúpula do sábado para que a Otan amplie o trânsito de material através do território russo.

Atualmente, grande parte do equipamento não letal usado no Afeganistão - sobretudo alimentos e combustível - parte da Europa e chega ao país asiático via Rússia. Rasmussen diz esperar que os dois lados cheguem a um acordo que amplie a quantidade e reveja as categorias de equipamento ocidental que cruza o território russo.

A principal preocupação da Otan é reduzir sua dependência das rotas paquistanesas - alvos frequentes de militantes do Taleban. Embora não pretenda enviar tropas ao Afeganistão, a Rússia tem grande interesse em combater grupos radicais islâmicos que atuam na Ásia Central.

A Otan e a Rússia devem ainda concluir um acordo para combater o narcotráfico no Afeganistão. / REUTERS e AFP

FUTURO DA ALIANÇA MILITAR

Afeganistão Os países membros da Otan apoiam uma estratégia para começar a entregar o controle da segurança às forças afegãs no próximo ano, com o objetivo de que os afegãos assumam a responsabilidade por todo o país até o final de 2014.

Conceito Estratégico Os líderes aprovarão um novo Conceito Estratégico, ou declaração de visão, para os próximos dez anos. A aliança enfatizará a necessidade de que seus membros modernizem suas Forças Armadas para lidar com as ameaças de segurança do século 21. Também alentará a colaboração em projetos de defesa.

Defesa antimísseis Prevê-se a aprovação de um investimento de US$ 273 milhões em dez anos para vincular a atual defesa antimísseis com os interceptadores e radares que os EUA querem instalar na Europa.

Redução de gastos Devem ser aprovados a reforma da estrutura da Otan e a redução dos números de quartéis e funcionários.

Posição nuclear Apoiará a visão de desarmamento global, mas enfatiza que, como as armas nucleares existem, a Otan continuará sendo uma aliança com armamento atômico.