Título: EUA propõem à Otan fim das ações de combate no Afeganistão até 2014
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/11/2010, Internacional, p. A10

Retirada. Estratégia para reduzir número de soldados da aliança atlântica em quatro anos prevê devolver primeiro às forças afegãs províncias perigosas, como Khost e Kandahar; detalhes da proposta serão revelados em cúpula em Portugal no fim de semana

Os EUA levarão à cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) neste fim de semana, em Lisboa, um plano para encerrar as operações de combate no Afeganistão em 2014. A estratégia é transferir a segurança para os afegãos progressivamente ao longo dos próximos quatro anos. Mesmo depois do prazo, assim como ocorre no Iraque, a aliança militar ocidental deve manter um contingente para treinamento e logística.

Rahmat Gul/APResistência. Comboio de caminhões da Otan que levaram gasolina após ser atacado por militantes no leste do Afeganistão O anúncio, antecipado ontem por The New York Times, delimita uma data para o fim das ações ofensivas. Até agora, havia apenas uma previsão para a retirada das tropas, que seria iniciada em meados do ano que vem. Um dos objetivos do governo de Barack Obama seria começar a transferir a segurança em algumas regiões do Afeganistão às forças locais nos próximos 18 a 24 meses. Entre as áreas devolvidas primeiro estão algumas das províncias mais violentas, como Khost e Kandahar.

Segundo autoridades em Washington, o início da remoção de militares no Afeganistão não deve ser alterado, mas a escala será bem menor para que existam forças de combate até 2014. "A partir de Lisboa, adotaremos uma estratégia de transição para terminar em 2014, quando o Afeganistão passará a liderar a segurança", disse Richard Holbrooke, enviado especial dos EUA para o Afeganistão e o Paquistão. "Nós temos uma estratégia de transição, mas não uma de retirada", acrescentou.

Holbrooke afirmou ainda que a estratégia não significa uma retirada completa. "Definitivamente isso não significa que repetiremos 1989, quando os EUA deram as costas para o Afeganistão assim que os soviéticos saíram. O que aconteceu naquele ano foi uma linha reta até o 11 de Setembro e daquele dia até onde estamos hoje. É a mais extraordinária história de consequências não intencionais da história da política externa americana."

Em meio à elaboração de uma nova estratégia da Otan, o comandante americano no Afeganistão, general David Petraeus, entrou em choque com o presidente afegão, Hamid Karzai. O militar americano irritou-se com declarações dadas pelo líder afegão ao Washington Post na semana passada. Ele disse que os ataques noturnos contra militantes têm causado atrito entre as tropas estrangeiras e as americanas.

Um porta-voz de Karzai tentou ontem contornar a crise, dizendo que a declaração do presidente não era uma crítica à estratégia da Otan, que tem em Petraeus o seu principal condutor no Afeganistão. O objetivo, segundo ele, era apenas discutir uma questão envolvendo as operações das forças internacionais e as afegãs. Nos últimos meses, Karzai tentou reduzir a visibilidade das tropas dos EUA no país.

O presidente Obama enfrenta oposição mesmo dentro de seu partido. Muitos democratas afirmam que ele não deveria ter enviado mais tropas para o Afeganistão, o que deve prorrogar a guerra mais longa da história americana - que já dura nove anos. Atualmente, os EUA possuem mais de 100 mil militares no território afegão.