Título: Brasil precisa elevar juro logo, diz OCDE
Autor: Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/11/2010, Economia, p. B1

Advertência da entidade foi feita considerando a possibilidade de alta da inflação, que ameaça ultrapassar as metas do Banco Central

O Banco Central (BC) do Brasil precisa começar a elevar sua taxa básica de juros o mais breve possível se quiser manter a inflação dentro de sua meta. A advertência foi feita ontem, em Paris, pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), durante o anúncio do relatório Perspectivas Econômicas.

A recomendação é feita mesmo que o real esteja sobrevalorizado em relação ao dólar e ao euro, conjuntura para a qual o remédio seria uma redução geral das despesas públicas.

"Dado que o mercado de trabalho está tenso e que a taxa de utilização da capacidade ultrapassa os níveis de médio e longo termo, o aperto monetário deveria ser retomado o mais breve possível para reprimir as crescentes pressões inflacionárias", afirma a OCDE. Ainda conforme a organização, "a desaceleração da atividade econômica, o recuo dos preços dos produtos alimentares e a apreciação significativa da moeda contribuíram para manter a inflação sob controle, mas os efeitos não devem perdurar porque o aumento do preço dos alimentos pode pesar sobre a inflação global e o efeito moderador da taxa de câmbio deverá se dissipar".

De acordo com Anabelle Mourougane, economista do birô Brasil na OCDE, a preocupação da OCDE se justifica porque a inflação pode cair ligeiramente, mas pode escapar da meta se o BC mantiver a taxa básica em 10,75%, patamar inalterado desde junho. A organização estima a inflação em 5,6% em 2010, 5,3% em 2011 e em 5,1% em 2012. "Há grandes riscos de que a inflação ultrapasse as metas", afirmou ao Estado.

Questionada se a elevação da taxa básica de juros não aprofundaria o desequilíbrio do câmbio, acentuando o ingresso de dólares no Brasil e valorizando o real, Anabelle argumenta que o objetivo prioritário do Banco Central é conter a inflação e que o reequilíbrio do câmbio deve ser perseguido com outras ferramentas, como a redução dos gastos públicos, sem cortes nos investimentos em infraestruturas.

A organização crê ainda que a elevação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) pode se revelar custosa e ineficaz para controlar o câmbio.

Para a OCDE, apesar do bom desempenho do Produto Interno Bruto (PIB), a economia brasileira vive um momento de desequilíbrio causado pela apreciação do câmbio, pelo alto nível de emprego, pela pressão inflacionária sobre os salários e pelo aquecimento do mercado interno, que não vem acompanhado de uma alta equivalente da produção industrial.

"Não sabemos qual é o verdadeiro valor do real frente ao dólar e ao euro hoje. Sabemos que uma parte da valorização de 35% do real se dá pelo fluxo de dólares ao país e por questões conjunturais, mas não sabemos se não há componentes estruturais", entende Annabelle. "É provável que o real tenha um novo ponto de equilíbrio em relação ao dólar e ao euro."

Crescimento. Apesar das dúvidas, o diagnóstico sobre a economia brasileira é considerado positivo. Para a OCDE, a desaceleração vivida desde o segundo trimestre de 2010 é temporária e se deve à retirada das medidas de estímulo à economia e ao aperto monetário. O crescimento do PIB deve ser de 7,5% em 2010, cair a 4,3% em 2011 e subir a 5% em 2012.

"Uma expansão econômica sustentável é prevista para os dois próximos anos, em favor dos vastos programas públicos de desenvolvimento de infraestruturas e com uma ligeira incidência negativa sobre o salvo comercial", estima a OCDE.