Título: Governo brasileiro não vê processo de desindustrialização
Autor: Landim, Raquel
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/10/2010, Economia, p. B1

Problemas vividos por setores da indústria não podem ser traduzidos como início do processo de desindustrialização do Brasil, segundo avaliação de integrantes do governo. "Uma coisa é você dizer que há problemas específicos em algumas áreas. Outra coisa é dizer que há um processo em curso de desindustrialização. Empiricamente isso não é comprovado", diz o presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Reginaldo Arcuri.

A avaliação é compartilhada pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge. "A indústria brasileira é sólida e diversificada, passa por um excelente momento em termos de investimento e geração de emprego e tem competitividade em vários setores", disse o ministro na semana retrasada, durante encontro com empresários. "Esses são sinais claros que não há desindustrialização."

Arcuri reconhece que os problemas pontuais são "grandes desafios" a serem enfrentados. Um dos exemplos citados pelo presidente da ABDI é a situação do setor de autopeças. "O Brasil passou de exportador para importador líquido e isso significa que nós temos de trabalhar com muito cuidado."

Uma das medidas tomadas para reverter a situação foi a retirada do redutor de 40% para importação de peças. Agora, o governo trabalha para desenvolver a engenharia no setor, com financiamentos "super privilegiados" do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Inovação. Fortalecer a inovação é outro caminho apontado pela ABDI para enfrentar a concorrência internacional. Levantamento feito pela agência mostra que 57% das grandes indústrias brasileiras fizeram algum tipo de inovação em seus produtos no segundo trimestre, contra 52,4% no início do ano. Mas inovações nos processos produtivos registraram um recuou, passando de 55,02% para 50,8%. Ainda assim, Arcuri pondera que as taxas são positivas.

"A inovação é efetivamente o pulo do gato", diz. "Precisamos produzir aquilo que o mundo demanda, aquilo que nos permita enfrentar as importações sem recorrer aos artifícios comerciais, como barreiras tarifárias", acrescenta.

As pressões para o uso de medidas de combate à entrada de produtos importados, que devem atormentar o próximo presidente da República, não assustam Arcuri. "Há um conjunto de medidas que sempre tem de ser exercitado, que são medidas de defesa comercial e de aplicação de impostos, que têm exatamente essa função de calibrar o movimento da balança comercial. Isso tem sido feito."

Segundo Arcuri, o Departamento de Defesa Comercial da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, órgão responsável pela execução da política de salvaguardas, aumentou o número de investigações antidumping. Atualmente, há 30 investigações em curso, 25 petições em análise e 67 medidas em vigor.

A sobretaxa imposta sobre a importação de tênis da China é um dos exemplos citados por Arcuri. Medidas mais sofisticadas também estão prontas para serem utilizadas. O governo já regulamentou um mecanismo que permite combater a triangulação de mercadorias que foram alvo de punições por práticas anticoncorrenciais.