Título: IGP-M dispara e economistas dizem que BC terá de subir a taxa de juros
Autor: Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/11/2010, Economia, p. B1

Segunda prévia do mês de novembro do IGP-M, índice que reajusta os aluguéis, indica que a inflação subiu 1,2% em relação a outubro

Pressionada por uma onda de aumento de preços de commodities, a segunda prévia do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) divulgada ontem avançou de 0,89% para 1,20% de outubro para novembro. Analistas aguardavam uma taxa de, no máximo, 1,17% para a prévia do indicador, usado para reajustar aluguéis.

Agora, especialistas começam a revisar para cima as projeções de inflação para o ano. Eles alertam que os reajustes que pressionam os preços no atacado e varejo devem continuar, conduzindo ao endurecimento da política monetária e à elevação de juros.

Em seminário no Rio, os economistas-chefes de dois grandes bancos brasileiros previram que o Banco Central (BC) terá de subir a taxa de juros (Selic) para controlar a inflação. Para Ilan Goldfajn, do Itaú Unibanco, e Alexandre Schwartsman, do Santander, ex-diretores do BC, a inflação caminha para superar 5% em 2011 e deve chegar a 5,5% ou mais em 2010. O economista Affonso Celso Pastore, ex-presidente do BC, também vê necessidade de alta de juros em 2011.

Goldfajn e Schwartsman preveem ainda que o superávit primário real não vai atingir 3,3% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2011, como foi indicado pela equipe de transição da futura presidente Dilma Rousseff.

Para todos esses analistas, a necessidade de apertar a política monetária será tão mais forte quanto menor for o esforço para elevar o superávit fiscal primário, que exclui juros. A razão é que o impulso fiscal do governo também aquece a demanda e provoca pressões inflacionárias.

Goldfajn acredita que a inflação oficial chegará a 5,5% em 2011, "com esforço, ou seja, com a política monetária apertando um pouco mais". Ele alertou que "os sinais de aquecimento estão aí, não totalmente fora de controle, mas será necessário algum ajuste". O economista prevê alta de 2 pontos porcentuais na Selic (hoje em 10,75%) em 2011.

Para Goldfajn, "todos os sinais clássicos de aquecimento" estão presentes na economia brasileira hoje. Ele citou a alta das expectativas de inflação e do déficit em conta corrente, que - na sua visão - pode chegar a 5% do PIB em 2012.

Os economistas participaram do seminário "O Brasil no novo Governo", organizado pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), na da Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio. Eles deixaram claro que, ao falar do superávit primário efetivo, referiam-se ao resultado sem os truques contábeis que o elevaram artificialmente nos dois últimos anos.

Para Schwartsman, o BC "está atrasado do ponto de vista da política monetária" e vai ter de elevar os juros diante do cenário de inflação em alta. Ele considera que o aumento dos juros será inevitável, já que não há perspectiva de um ajuste fiscal de magnitude que evite uma intervenção mais forte da política monetária.

O economista criticou o fato de a política fiscal ainda ter como foco apenas a sustentabilidade da dívida pública. "O ajuste fiscal deve sair da dimensão de controlar dívida e conciliar instrumentos de política econômica, monetária e fiscal." Segundo ele, não há nenhum sinal de melhoria do desempenho fiscal. "Com um superávit primário elevado, é possível manter a inflação na meta sem elevar juros, mas é muito remota a chance de que haja um ajuste primário dessa magnitude."

Schwartsman mencionou estimativa sua recente de que, no período de 1999 a 2008, o superávit primário nos momentos em que a economia funcionou a toda carga, em termos de emprego e ocupação da capacidade instalada, tendeu a ficar em 3,5% do PIB, com o governo federal responsável por 2% do PIB. Depois da crise de 2009, já num período em que a atividade voltou a funcionar a todo vapor, o superávit primário do governo caiu para pouco mais de 0,5%, e o total para 2%. O economista acha difícil ir muito além disso em 2011.

O problema, segundo ele, é que a manutenção do superávit primário em apenas 2% do PIB depois que a economia voltou a funcionar a plena carga indica que a piora fiscal foi muito além da política anticíclica. "A despeito do que se afirmou, quase todo o aumento de gasto foi permanente", disse Schwartsman.