Título: Capitalismo de compadres é criticado
Autor: Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/11/2010, Economia, p. B1

O Brasil caminha para um "nacional-desenvolvimentismo soft", na visão do economista Pedro Cavalcanti, professor da Escola de Pós-Graduação em Economia (EPGE) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O consultor Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central (BC), fez coro àquela preocupação, dizendo que "estamos satisfazendo os pobres com o Bolsa-Família e os ricos com o crédito; isso leva a um capitalismo de compadres, e não necessariamente à busca da eficiência econômica".

Esse foi um dos momentos mais contundentes do debate "O Brasil no novo Governo", realizado na sexta-feira pelo Ibre, na sede da FGV-Rio. Os participantes foram de certa forma provocados pelos comentários do economista Samuel Pessôa, do Ibre, que vem trabalhando há algum tempo com a ideia de que a política econômica brasileira tem como base nas últimas décadas o que chama de "contrato social" da redemocratização.

Na visão de Pessôa, com a enorme desigualdade brasileira, sucessivas eleições desde a redemocratização vêm empurrando o País numa direção em que a prioridade dos governantes na área econômica é a redistribuição de renda, o que acaba condicionando outros aspectos, como crescimento, inflação, câmbio e tributação.

Pelo modelo atual, houve um grande aumento de carga tributária, de quase 10 pontos porcentuais do PIB, em 15 anos, que foi basicamente direcionado para aposentadorias (especialmente às indexadas ao salário mínimo), programas sociais e gastos em saúde e educação.

Com a estabilização da economia e a forte elevação das commodities que o Brasil exporta, foi possível distribuir renda e retomar um ritmo mais vigoroso de crescimento nos últimos anos. O problema, porém, é que o modelo voltado ao consumo desestimulou tanto a poupança pública quanto a privada. Hoje, a pressão conjunta do consumo e do investimento acaba levando ao aumento do déficit em conta corrente, da inflação, ou dos dois.

Cavalcanti, porém, disse ter uma visão bem mais pessimista do quadro atual. Para ele, além do "contrato social" redistributivo, foi introduzida nos últimos dois anos uma política de favorecer com recursos públicos (via BNDES) grandes grupos empresariais, "com intervenções agressivas, escolha de empresas campeãs e mudança de regras para favorecer determinadas área do setor público".