Título: Líderes de BCs e FMI ignoram temas-chave
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/11/2010, Economia, p. B16

Em mais de duas horas de discursos e debates, presidentes dos bancos centrais dos Estados Unidos, da União Europeia e do Brasil, além do diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI) não pronunciaram nenhuma vez três expressões-chave da atual conjuntura de crise: Irlanda, guerra fiscal e a injeção de US$ 600 bilhões pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) na economia americana.

A proeza foi realizada a partir das 11h15min de ontem - 8h15min em Brasília -, em Frankfurt, na Alemanha. Convidados de honra de Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu (BCE), Ben Bernanke, Henrique Meirelles e Dominique Strauss-Kahn tangenciaram os temas que mais preocupam analistas e os mercados financeiros, mas não abordaram diretamente os assuntos nem por um minuto.

Irlanda. Sobre Irlanda, Trichet se calou. Chegou a falar na crise da dívida na Grécia, reiterando que se trata de um país com baixa densidade no Produto Interno Bruto (PIB) da União Europeia, em torno de 1%. Sobre os irlandeses, que têm peso parecido, nem críticas, nem elogios. O mais perto que chegou, ainda na quinta-feira, foi reiterar sua "inquietude profunda" frente à crise.

Já Bernanke, Strauss-Kahn e Meirelles trataram de guerra fiscal e dos US$ 600 bilhões injetados pelo Fed. Mas sempre em linguagem cifrada.

"Há uma longa lista de problemas graves, que criam outros problemas, e que ainda não foi resolvida", afirmou o diretor-gerente do FMI, alertando: "Agora é impossível encontrar soluções domésticas para problemas globais".