Título: Investimento das teles chega a seu nível mais baixo desde a privatização
Autor: Mendes, Karla ; Cruz, Renato
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/11/2010, Negocios, p. B22

Pouco dinheiro. Entre janeiro e setembro, as operadoras de telefonia fixa e móvel investiram R$ 8,3 bilhões, o que corresponde a 9,7% da receita líquida registrada no período; a menor marca registrada anteriormente havia sido em 2007, com 14,8% da receita

Nunca as operadoras privadas de telecomunicações investiram tão pouco. Entre janeiro e setembro, as empresas destinaram R$ 8,3 bilhões para gastos de capital, o que representou 9,7% dos R$ 85,4 bilhões da receita líquida das empresas, segundo a dados da consultoria Teleco.

"A queda é muito maior do que esperávamos", afirmou Aluizio Byrro, presidente do conselho para a América Latina da fabricante de equipamentos Nokia Siemens. Anteriormente, o menor nível de investimentos desde 1998, ano da privatização do Sistema Telebrás, havia sido atingido em 2007, quando ficou em 14,8% da receita.

Existem algumas explicações para essa queda. Uma delas é a redução dos investimentos da Oi, que priorizou a redução do endividamento este ano, depois da compra da Brasil Telecom em 2008 e da integração da companhia no ano passado.

Outra é o estágio do projeto de telefonia celular de terceira geração (3G), em que as maiores cidades já foram atendidas. Um terceiro motivo é a onda de fusões e aquisições vista este ano. Por último, faltam iniciativas de política pública que obriguem as empresas a investir neste momento. "A redução reflete algumas sazonalidades", disse Eduardo Tude, presidente da Teleco. "No ano que vem deve haver uma nova onda de investimentos."

Essa queda nos investimentos acontece num momento em que o governo retoma a sua presença no setor, com a Telebrás. Segundo fontes do mercado, a incerteza regulatória trazida pela reativação da estatal também pode ter afetado os planos das empresas privadas.

Rentabilidade. Na semana passada, o presidente da Oi, Luiz Eduardo Falco, afirmou que a empresa investirá mais no próximo ano, "mesmo sem o aumento de capital", referindo-se à entrada da Portugal Telecom no bloco de controle da companhia. A Oi foi a empresa que menos cresceu em banda larga este ano, apesar de ter a maior área de atuação, quando comparada com a Net, Telefônica e GVT.

No terceiro trimestre, os aportes da Oi ficaram em apenas R$ 600 milhões, o que representou queda de 55,4% frente ao mesmo trimestre de 2009. No acumulando dos nove meses do ano, os aportes da companhia foram de R$ 1,4 bilhão, volume 55,5% inferior ao do mesmo período do ano passado. Em comparação, a Telefônica reduziu seu investimento em 2,7% em nove meses, para R$ 1,365 bilhão, e a Vivo em 10%, para R$ 1,493 bilhão.

A redução dos investimentos é queixa comum entre os fornecedores . "Os investimentos em 2010 devem ficar abaixo de 2009, em 2011 devem empatar com 2009 e só em 2012 deve voltar ao patamar de 2008", disse Jonio Foigel presidente da Alcatel-Lucent no Brasil.

Esse cenário, segundo especialistas, reflete os efeitos da crise mundial e do grande número de fusões e aquisições no setor este ano, com destaque para a compra da participação da Portugal Telecom na Vivo pela Telefônica e da entrada do grupo português no bloco de controle da Oi.

Além de terem direcionado parte significativa dos aportes de capital para viabilizar essas operações, Luis Minoru, diretor da consultoria PromonLogicalis, explicou que a convergência entre as operações fixas e móveis também reduz os investimentos para uma única plataforma de infraestrutura. "Telefônica e Vivo, em algum momento, devem fundir as operações fixa e móvel, e os mexicanos também devem anunciar isso em breve. A Oi já fez isso (depois da compra da Brasil Telecom)", observou.

Assim, os fornecedores passam a ter menos clientes no mercado, mas a consolidação de empresas é um fenômeno mundial. "A choradeira dos fornecedores é pertinente. Mas não dá para culpar as operadoras. Elas estão se consolidando porque precisam continuar competitivas no mercado." Ele lembrou que esse movimento também ocorreu em outros elos da cadeia, incluindo fornecedores. Ele citou o exemplo da fusão da Alcatel com a Lucent e da Nokia com a Siemens.