Título: Preservativo é para homens e mulheres, esclarece o Vaticano
Autor: Thomé, Clarissa ; Gonçalves, Alexandre
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/11/2010, Vida, p. A16
Erro de tradução em entrevista com Bento XVI foi explicado pela Igreja; uso é admitido nas relações de Prostituição
O papa Bento XVI admitiu o uso da camisinha tanto por homens quanto por mulheres que se prostituem, para evitar a propagação da aids. As declarações do líder católico sobre o uso de preservativos dadas ao alemão Peter Seewald no livro A Luz do Mundo, lançado ontem, foram esclarecidas pelo porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi.
No texto original foi usado o termo "prostitutos", o que levou a especulações de que o papa teria se referido apenas a relações entre homens, o que não faria diferença do ponto de vista da contracepção, condenada pela Igreja. Na tradução italiana, a palavra ficou no feminino. "Tanto faz que seja um homem, uma mulher ou um transexual que se prostitua: a mensagem é que se deve evitar colocar em risco a vida do outro", disse Lombardi. Mesmo admitindo o preservativo nessas circunstâncias, Bento XVI não considera que ele seja suficiente para vencer a aids. "Pode ser o primeiro passo até uma moralização, um primeiro ato de responsabilidade, consciente de que tudo não está permitido", diz o pontífice no livro. "É necessária uma humanização da sexualidade", defende. Na obra, o papa também admite que renunciaria se sua saúde piorasse e comenta a dor que sentiu com os escândalos de pedofilia.
O representante do Programa das Nações Unidas para Aids no Brasil, Pedro Chequer, disse que a atitude do papa trará um impacto importante nas estatísticas de aids em 5 a 10 anos. "A decisão resgata o compromisso social de valorizar a vida. Além disso, vai fortalecer grupos da Igreja que já têm entendimento da necessidade dos preservativos."
Homossexualidade. Outro trecho do livro gerou controvérsia. Nele, o papa diz que a homossexualidade é injusta, que se opõe à vontade de Deus e é irreconciliável com a vocação sacerdotal. "Como seres humanos, merecem respeito. Mas isso não significa que a homossexualidade seja justa. Segue sendo algo que se opõe à própria essência do que Deus originalmente quis." Também diz que "correria-se um grande risco se o celibato se convertesse em pretexto para fazer entrar no sacerdócio gente que não pode se casar". As declarações foram condenadas pela principal associação de defesa dos direitos dos homossexuais na Itália, a Arcigay. Em nota, ela afirmou que "as palavras humilham milhões de vidas que suportam discriminações diariamente".