Título: Metas não dependem apenas do governo, diz economista
Autor: Rodrigues, Alexandre
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/11/2010, Economia, p. B1

Para José Márcio Camargo, da PUC-Rio, "uma empresa não vai investir em pesquisa só porque o governo quer"

RIO

O governo pode incentivar a indústria, mas não dirige efetivamente a economia com política industrial. É o que diz o economista José Márcio Camargo, professor da PUC-Rio, para quem metas como as da PDP são mais indicadores de onde o governo quer chegar do que um compromisso com o seu cumprimento. "Essas metas não dependem só do governo. Dependem de fatores, como o cenário internacional. As metas são indicativas, já que o governo não pode fazer tudo. Uma empresa não vai investir em pesquisa só porque o governo quer", avalia. Embora os recursos públicos para pesquisa e desenvolvimento tenham crescido, alcançando 0,6% do PIB, o investimento das empresas em inovação ainda não chegou perto da meta da PDP de somar 0,65% do PIB. Dados apresentados pelo presidente do BNDES, Luciano Coutinho, indicam que o setor privado brasileiro investe em P & D o equivalente a 0,52% do PIB, menos do que países como China (0,98%), EUA (1,78%), Alemanha (1,73%), Coreia do Sul (2,43%) e Japão (2,62%).

No novo plano, o governo quer reforçar a interação com o setor privado em iniciativas como a Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que aproxima empresas inovadoras de financiadores públicos, como o BNDES e a Finep. Pesquisa do IBGE mostrou que o alto custo da inovação é o principal obstáculo para 73,2% das empresas. Já a falta de pessoal qualificado é citada por 57,8%.

"É bom o governo incentivar a indústria, mas não adianta falhar em pontos básicos, como a educação. Mão de obra qualificada é fundamental para uma empresa investir em pesquisa ou exportar", assinala Camargo.

Para Domingos Naveiro, presidente do Instituto Nacional de Tecnologia (INT), a crise de 2008 fez muitas empresas adiarem investimentos em inovação. "Com a recuperação, os projetos estão voltando. É uma questão cultural. Quando uma empresa inova, tem resultados melhores. Vendo isso, o concorrente também busca como fazer e o crescimento vira exponencial. Isso está acontecendo."

Com a falta de indicadores precisos para medir o investimento privado em inovação, o presidente do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), Jorge Ávila, prefere os depósitos de patentes brasileiras no exterior como parâmetro. Os dados ainda não estão fechados, mas, segundo ele, a expectativa de triplicar esse indicador em relação a 2008 deve ser confirmada.

"Vemos hoje uma discussão no meio empresarial que não existia. A inovação finalmente é percebida como diferencial de competitividade global, de saída para exportar, ainda mais no cenário de guerra cambial", disse Ávila. Para ele, o País não vive um processo de desindustrialização, mas uma dificuldade conjuntural que pode ser superada com aumento de produtividade e qualidade pela inovação.

Camargo, da PUC-Rio, concorda que as dificuldades de exportação de manufaturados e a enxurrada de importados têm relação com o excesso de liquidez mundial, mas lembra que a economia brasileira ainda é muito fechada. A baixa resistência de alguns setores ao câmbio pode evidenciar deficiências sistêmicas de competitividade. "Falar em desindustrialização causada por importação em um País com tarifas de importações ainda tão altas é estranho." / A. R.