Título: Transações correntes e entradas de capitais
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/11/2010, Economia, p. B2

Em outubro o balanço de pagamentos apresentou superávit de US$ 8,8 bilhões, ante US$ 11,6 bilhões no mês anterior. Essa deterioração tem sua origem na redução sensível (-20,2%) da conta financeira, afetada pelas restrições a alguns casos de entradas de capital estrangeiro.

As transações correntes novamente acusam déficit, desta vez muito semelhante ao de setembro e com um déficit maior da balança comercial, compensado por uma redução dos serviços, apesar de um aumento do saldo negativo das operações de lucros e dividendos.

O que é mais intrigante é a redução da conta financeira, que tem por objetivo cobrir o déficit das transações correntes. Em setembro a conta financeira correspondeu a 292,4% do déficit em transações correntes. Essa relação caiu para 225,15% em outubro. Os investimentos diretos estrangeiros somaram US$ 6,7 bilhões, ante US$ 5,9 bilhões em termos líquidos no mês anterior. Os investimentos em carteira apresentam saldo de US$ 16,7 bilhões, ante US$ 8,3 bilhões em setembro.

O balanço de pagamentos foi afetado positivamente pela emissão de ADRs pela Petrobrás, que atraíram US$ 9,593 bilhões. O saldo das operações, que era negativo até setembro, voltou a ser positivo em outubro, com US$ 7,1 bilhões.

A taxa de rolagem de empréstimos externos ficou em 912%, ante 233% nos dez primeiros meses do ano. Com isso, a dívida externa bruta ficou em US$ 252,1 bilhões, para uma reserva em divisas de US$ 284,9 bilhões, o que dá alguma segurança à gestão das contas externas. Para novembro, o Banco Central prevê um déficit das transações correntes de US$ 4,4 bilhões.

Ao aumentar os empréstimos tomados no mercado internacional o País paga juros maiores. Além disso, a anunciada saída do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, no quadro de uma nova política econômica, poderá criar no exterior um clima de incerteza, acentuado pelo aumento da inflação. Até ontem (23 de novembro) os investimentos em renda fixa apresentavam saldo negativo de US$ 52 milhões. Tal evolução reflete a taxação de 6% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre algumas entradas de capital estrangeiro - medida que não produziu grande efeito na taxa cambial que afeta nossas exportações e estimula as importações.

Caberá à nova equipe de governo demonstrar ser capaz de mudar alguns pontos da política econômica, sem abandonar a política de austeridade.