Título: Após alta do IOF, estrangeiro tira aplicação do País
Autor: Froufe, Célia ; Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/11/2010, Economia, p. B5

Déficit em transações correntes em outubro foi compensado integralmente pela entrada de investimento produtivo

BRASÍLIA Após o ingresso de US$ 1,74 bilhão em outubro, o fluxo de dólares destinado ao investimento estrangeiro em renda fixa no Brasil inverteu os sinais em novembro. A mudança é atribuída ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e dados preliminares do Banco Central (BC) mostram que houve saque líquido de US$ 52 milhões em novembro até ontem.

Para tentar estancar a alta do real em relação ao dólar, o governo dobrou para 4% a alíquota do imposto em 4 de outubro e voltou a subi-lo, para 6%, no dia 18 do mesmo mês.

Apesar da saída de dólares na renda fixa em novembro, o BC comemorou o resultado porque o forte ingresso de Investimento Estrangeiro Direto (IED) e números positivos no fluxo para aplicações financeiras, como as ações, mais que compensaram a saída na renda fixa. Em outubro, o déficit em transações correntes ficou em US$ 3,7 bilhões, valor coberto integralmente pelo investimento produtivo, que somou US$ 6,77 bilhões no mês passado.

Ao anunciar a saída de dólares após o aumento do IOF, o chefe adjunto do departamento econômico do BC, Túlio Maciel, fez questão de enfatizar que a conta é "bastante volátil". Tanto que, em julho, foi constatada a saída de US$ 64 milhões, enquanto nos meses seguintes, o fluxo ficou positivo e superior a US$ 1 bilhão. "Mas não dá para desvincular o resultado do aumento do IOF", admitiu.

O impacto do imposto maior sobre o setor externo já era esperado pelo presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Luís Afonso Lima, pois a tendência havia aparecido na diminuição da demanda dos investidores estrangeiros de títulos do governo. "De fato, houve efeito na redução dos investimentos em carteira, o que significa que a medida do governo fez efeito."

IED. Os investimentos produtivos em outubro foram recordes para o mês, acima das expectativas do mercado e do próprio BC. "O financiamento está mais confortável do que tínhamos anteriormente", disse Maciel.

"O IED foi surpreendente: ficou parecido com o do mês anterior, que já foi positivo, e financiou o setor externo com tranquilidade", concordou Lima. Para este mês, o saldo dos investimentos estava em US$ 2,2 bilhões até ontem e a expectativa da autoridade monetária é de chegar a US$ 2,8 bilhões.

Outra característica do IED que ganhou mais força no mês passado, conforme Lima, foi a pulverização da origem do capital. "O dinheiro veio de várias empresas e isso mostra que dependemos de menos de investimentos de grande porte", destacou. Segundo ele, a maior parte dos recursos foi proveniente de um volume de aplicação entre US$ 100 milhões e US$ 500 milhões.

Além dos investimentos robustos no País, Maciel destacou a manutenção do interesse dos estrangeiros em ações domésticas, o que demonstra a continuidade da atratividade dos papéis brasileiros mesmo depois da capitalização da Petrobrás.

A operação foi realizada em setembro e tornou-se a responsável pela maior compra de papéis em bolsa de valores em um mês. Mesmo assim, em outubro, os investidores estrangeiros destinaram US$ 4,9 bilhões a ações brasileiras.