Título: Indústria nacional de máquinas perde espaço
Autor: Landim, Raquel
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/11/2010, Economia, p. B3

Os fabricantes de máquinas e equipamentos reclamam de uma "invasão" de produtos importados, principalmente da China. O país ultrapassou a Alemanha e o Japão e se tornou o segundo maior fornecedor do Brasil, atrás apenas dos EUA.

De janeiro a setembro, os chineses venderam 12,3% das máquinas adquiridas pelas empresas brasileiras, acima dos 11,9% dos tradicionais fornecedores alemães. Em 2004, a China respondia por apenas 2,1% do total.

Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Máquinas (Abimaq), as máquinas chinesas chegam ao País por 10% a 15% do valor do produto brasileiro. "Como competir com isso?", indaga o presidente da entidade, Luiz Aubert Neto.

A concorrência com importados piorou com a crise, pois a China perdeu clientes nos EUA e na Europa. Levantamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) mostra que as importações de máquinas estão crescendo em ritmo muito superior ao da produção.

No terceiro trimestre, a produção de bens de capital caiu 2,2% em relação ao segundo (excluídas as influências sazonais), enquanto o consumo cresceu 3,8% e as importações avançaram expressivos 36,1%. As máquinas importadas têm hoje 44% do mercado. "As máquinas importadas estão puxando o investimento", disse Fernando Puga, chefe do departamento econômico do BNDES. Ele ressalta que o aumento da utilização de eletrônica aplicada nas máquinas acaba favorecendo as importações.

O setor está pressionando o governo para elevar as tarifas de importação e por medidas de defesa comercial, que combatam o dumping e o subfaturamento. "Já mandei três cartas para o ministro Mantega (Guido Mantega, da Fazenda) e até agora nada", disse Aubert Neto.

Sobrevivente. Segundo o empresário, fabricantes nacionais estão desistindo da atividade e se transformando em importadores. Ele conta que, uma década atrás, existiam dez fabricantes de fresas (ferramenta de corte) no País. Hoje só uma sobrevive, a Kone, instalada em Limeira, no interior de São Paulo.

Fundada em 1974, a empresa, que chegou a ter 400 funcionários, trabalha com apenas 100. "A concorrência com a importação é tão forte que o impacto do boom do mercado brasileiro é pequeno na empresa", conta o diretor industrial, Marcelo Cruanes Filho. Para compensar, ele admite que a Kone está importando máquinas. "Se não tivéssemos feito isso, estaríamos fora do mercado", argumenta.