Título: Futuro dos jornais passa pela convergência
Autor: Ribeiro, Marili
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/11/2010, Negocios, p. B15

Para especialista, integração das operações impressa e online dos jornais é inevitável; questão ainda é como equilibrar essa equação financeiramente

SÃO PAULO - Defensor da integração dos modelos impresso e online nos jornais, Earl Wilkinson, diretor executivo do INMA (sigla em inglês para Internacional Newspaper Marketing Association), defendeu em seminário em São Paulo que, por maior que seja a resistência das empresas jornalísticas em migrar para a internet, o futuro é usar a convergência de meios para distribuir notícias.

"É difícil mudar um modelo de negócio que por séculos foi dominado pelo processo impresso para passar a operar em plataformas multimídias", reconhece Wilkinson. "Hoje, os níveis de integração nas redações que visito são bem distintos. Mas, em algum nível, essa integração está sempre acontecendo."

A questão essencial para os executivos da indústria jornalística ainda está em como equilibrar a equação, já que os gastos com a oferta do jornalismo online continuam sendo cobertos pela operação de jornalismo impresso. Wilkinson entende que o risco é de se canibalizar o negócio com uma migração muito rápida de impresso para a internet. Mas, para ele, a mudança será inevitável.

Para endossar sua análise, ele exibiu a projeção das verbas que serão aplicadas em publicidade nos Estados Unidos em 2012. Apenas 32% do total será investido nos meios tradicionais, como jornal. Os canais online e outros meios, como eventos e promoções nos pontos de venda, devem absorver a maior parte dessa verba. Há dois anos, os canais tradicionais ficavam com 47% dessas verbas nos EUA.

Ao abrir o seminário organizado pelo INMA, Marcelo Benez, diretor de publicidade da Folha de S. Paulo e vice-presidente da associação no Brasil, lembrou que "a internet é uma grande oportunidade para os jornais, desde que sem comprometer a rentabilidade do negócio".

No Brasil, as empresas jornalísticas vivem um bom momento com o crescimento do consumo. No primeiro semestre, o meio jornal teve crescimento de investimento publicitário de 8,25% ante o mesmo período do ano anterior, totalizando R$ 1,59 bilhão. A circulação dos jornais no País em 2009 foi de 8,193 milhões de exemplares/dia.

Essa realidade é realmente distinta da europeia e da americana, onde a leitura dos jornais impressos cai e a leitura de notícias online cresce. Embora a taxa de leitura no Brasil seja baixa, a perspectiva de curto prazo é de crescimento do mercado para os jornais. Apenas seis a cada 100 pessoas leem jornal atualmente no País. Para efeito de comparação, na Noruega essa relação é de 54 para 100, no Japão é de 46 para 100 e nos EUA, de 19 para 100.

Integração

Os maiores jornais brasileiros vivem, em algum nível, processos de integração das equipes que trabalham no online e no impresso. Ricardo Gandour, diretor de conteúdo do Grupo Estado, acredita que todas as novidades que estão entrando nesse mercado, como os tablets, são absorvidas por todos os participantes desse mercado no País mais ou menos ao mesmo tempo. "A questão que se coloca é como se integrar o online e o offline de maneira a rentabilizar o negócio e, ao mesmo tempo, permanecer fazendo um jornal de qualidade."

Um dos pontos que Gandour levantou em sua apresentação no seminário é que há um tempo de maturação para se absorver as informações jornalísticas. "Existem diferenças entre a rapidez de se ler uma notícia na internet e depois lê-la com mais calma no jornal impresso."

Sérgio Dávila, editor executivo da Folha de S. Paulo, vê esse momento de convergência e integração numa base ainda bem inicial. Ele acredita que há um longo caminho a percorrer, mas que, cada vez mais, os profissionais do meio jornalístico vão ter de se preparar para trabalhar em canais multimídia.

Já para Ascânio Seleme, da InfoGlobo Comunicações, dona do título carioca O Globo, o processo de integração das redações é recente, mas também tem proporcionado bons frutos. Um deles é a agilidade que foi dada com uma equipe que trabalha junta para produzir a versão impressa e definir a notícia que vai para a primeira página do online. Outra mudança prática, segundo ele, tem sido a mudança do fluxo de produção de notícias, já que, no online, o pico de leitura acontece entre 11 horas e 14 horas.

Ricardo Stefanelli, editor chefe do Zero Hora, o maior jornal da região Sul, contou que o online veio para complementar o jornal impresso, reforçando uma prestação de serviços e informações locais que, na prática, resultou em crescimento da circulação do impresso. "A experiência online fez a circulação subir", disse. "Em setembro de 2007, quando começou a operação online, a Zero Hora tinha uma circulação diária de 176,4 mil exemplares. Hoje, essa circulação está em 186,5 mil."