Título: Petros compra fatia da Camargo Corrêa na Itaúsa por US$ 1,6 bilhão
Autor: Friedlander, David
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/11/2010, Negocios, p. B17

Fundo de pensão dos funcionários da Petrobrás terá 11% do capital votante ou 4,4% do capital total, participação menor apenas que a das famílias controladoras do grupo

SÃO PAULO - O fundo de pensão Petros, dos funcionários da Petrobrás, fechou quinta-feira a compra, por mais de US$ 1,6 bilhão, da participação que a Camargo Corrêa tem na Itaúsa, a holding que controla o Itaú-Unibanco, a Itautec, a Duratex e a empresa química Elekeiroz. A operação envolve cerca de 11% do capital votante ou 4,4% do capital total.

Como se trata de uma participação relevante, a operação precisará ser sacramentada num leilão na BM&FBovespa. A participação da Camargo Corrêa na Itaúsa só é menor que as das famílias controladoras da empresa. Isso significa que a Petros será sócia importante das famílias Setúbal, Villela e Moreira Salles.

O lote estava há anos em poder da Camargo, foi colocado à venda há pouco mais de um ano. O grupo contratou para intermediar a operação o Banco Rothschild , que chegou a negociar com interessados do Brasil e do exterior, antes de fechar com a Petros. "Com a própria Petros houve idas e vindas", afirmou uma fonte que participou do negócio.

Procurados na quinta, a Petros, a Camargo e a Itaúsa não quiseram se manifestar oficialmente. Fontes ligadas à fundação, porém, disseram ao Estado que a participação na Itaúsa se enquadra na estratégia da Petros de reduzir a concentração em papéis de renda fixa e aumentar os investimentos em renda variável.

A Itaúsa controla quase R$ 670 bilhões em ativos. De janeiro a setembro deste ano, o patrimônio líquido alcançou R$ 64,3 bilhões e o lucro líquido foi de R$ 10,3 bilhões, com rentabilidade de 22,5% sobre o patrimônio líquido médio.

Embora o principal negócio do grupo seja de longe o mercado financeiro, nos últimos tempos a Itaúsa vinha dedicando mais atenção às atividades industriais.

A Duratex, que já tinha posição de liderança no ramo de construção civil, associou-se à Satipel, transformando-se na maior empresa de painéis de madeira do Hemisfério Sul e oitava maior do mundo.

A Itautec, uma empresa da área de tecnologia ainda muito dependente dos contratos de automação bancária com o Itaú, foi profissionalizada recentemente, teve toda a diretoria trocada e aposta no boom de consumo da classe C para se fortalecer no mercado de computadores.

Diversificação

A Camargo Corrêa comprou a participação na Itaúsa em 1982. Mais ou menos na mesma época, passou a investir em negócios nas áreas têxtil e de calçados, o que foi considerado uma inovação lançada por Sebastião Camargo, o fundador do grupo.

O empresário já era dono de uma das maiores empreiteiras de obras públicas do País e sua decisão de diversificar os negócios com a compra de empresas de outros ramos foi uma estratégia para investir o dinheiro que entrava no caixa e diminuir a dependência do setor público.

Quase 30 anos mais tarde, seus sucessores mudaram a estratégia. No ano passado, decidiram se desfazer de operações que não são prioritárias na estratégia do grupo, para se concentrar em setores que julga mais promissores, como cimento, energia e exploração de concessões públicas.

Antes da participação na Itaúsa, a Camargo já tinha se desfeito de quase toda sua posição na na gigante do alumínio na gigante do alumínio Alcoa.

No começo do ano, por exemplo, a Camargo deixou para trás o grupo Votorantim e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), na disputa pelo controle da Cimentos de Portugal (Cimpor), uma das maiores do ramo no mundo. O grupo, que já é um dos maiores do País na área de energia, tem planos ambiciosos para ser um dos consolidadores do setor.

Colaborou Mônica Ciarelli