Título: Caixa escapou de perder R$ 700 mi no Panamericano
Autor: Simão, Edna
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/11/2010, Economia, p. B5

Como a aprovação da nova diretoria do Panamericano pelo BC demorou, Caixa não teve de dividir a conta da quebra do banco

BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse ontem sobre o escândalo do Banco Panamericano, que o trabalho de fiscalização da autoridade monetária tem como objetivo evitar risco sistêmico e isso não deve ser confundido com trabalho de auditoria.

Para ele, se o BC tivesse que desempenhar essa função, além dos elevados custos para os cofres públicos, seria necessário um exército de auditores para analisar todo o sistema financeiro. "Seria uma supergalática empresa de auditoria do BC auditando todas as empresas financeiras do Brasil. Não há viabilidade para isso", disse Meirelles, durante audiência pública no Senado para explicar a operação de compra de parte do Panamericano pela Caixa. Também esteve presente a presidente da Caixa, Maria Fernanda Ramos Coelho.

A demora do BC em aprovar a nova diretoria do Panamericano impediu que a Caixa também tivesse que aportar recursos para ajudar a cobrir o rombo de R$ 2,5 bilhões na instituição financeira, que teve 49% de suas ações adquiridas pelo banco público em dezembro do ano passado.

"O problema foi detectado e solucionado a tempo, antes da aprovação final do BC dessa fusão, antes do BC aprovar a posse dos diretores e conselheiros. A partir daí é que se institui a responsabilidade solidária da Caixa ao passivo do banco. E isso vai além de R$ 700 milhões", afirmou Meirelles.

Em dezembro, a Caixa, por meio do braço financeiro CaixaPar, pagou R$ 739,2 milhões por 49% do controle acionário do Panamericano. O negócio foi firmado após passar por várias auditorias internas e externas. A aprovação do BC, no entanto, só veio em julho. Para acelerar a entrada no Panamericano, em agosto, a Caixa enviou à autoridade monetária toda a documentação, inclusive nomes da diretoria, para a conclusão do negócio. Para sorte da Caixa, a BC só aprovou a posse da nova diretoria em novembro - um dia após ter sido injetado recursos no Panamericano para que fosse resolvido o problema das "inconsistências patrimoniais". Ou seja, demorou três meses para aprovação.

Segundo um técnico do BC, não houve demora na aprovação dos nomes para o Panamericano porque há burocracia no processo. Na avaliação do técnico, autoridade monetária só poderia levar adiante o processo quando o problema no Panamericano estivesse totalmente resolvido.

A existência de ""inconsistências patrimoniais"" do Panamericano, após passar por várias auditorias e também por fiscalização do BC, colocou em dúvida principalmente o papel das empresas que fazem consultoria no país. O o presidente Meirelles reforçou que não houve falhas por parte do BC que foi a primeira a descobrir as irregularidades nas contas. Mas deixou claro que houve uma falha e a responsabilidade deve ser identificada nos processos que foram abertos no BC e no Ministério Público.

Defesa. A presidente da Caixa saiu em defesa do banco público. "Não houve, por parte da instituição, falha no processo de aquisição", disse, acrescentando que a CaixaPar, braço financeiro da Caixa, interpelou extrajudicialmente o Banco Fator, um dos auditores da operação com o Panamericano, para resguardar os interesses da instituição pública.

Apesar de senadores questionarem o fato de que a Caixa perdeu dinheiro com a aquisição do banco do Silvio Santos, Maria Fernanda discordou.

Para ela, o Panamericano será importante para o crescimento da instituição em áreas onde a participação é pequena, como é o caso de financiamento de carros, leasing e consignado. "A Caixa não considera que perdeu, não comprou do ponto de vista de especulador. Comprou com base no planejamento estratégico", destacou. "A recuperação patrimonial (do Panamericano) é factível. É possível implementar o Plano de Negócio para que a Caixa passe a ter o retorno e a resposta esperada", disse.