Título: Fundo de socorro enfrenta seu primeiro grande desafio
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/11/2010, Economia, p. B1

Criado para salvar a Grécia da falência, Fundo Europeu de Estabilidade Financeira é peça-chave contra crise generalizada

O mecanismo de socorro, criado em maio após meses de divergências entre os países da zona euro, se tornou seis meses depois uma peça-chave para garantir a solvência de países da União Europeia. Montado às pressas para salvar a Grécia, o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FESF), o "FMI europeu", agora é protagonista do plano de socorro da Irlanda e pode ter o caixa reforçado para proteger Portugal e Espanha.

Até o primeiro semestre, a zona euro não contava com nenhum mecanismo de socorro em caso de crise. Até então, Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu (BCE), era contrário à criação de um "FME", alegando que a maior garantia do euro seria a própria estabilidade dos países da UE.

O problema é que, com a quebra do Lehman Brothers, em 2008, com a necessidade de socorro ao sistema bancário em países como Reino Unido, Irlanda e Bélgica e com o lançamento de programas de estímulo à economia, para combater a recessão, o equilíbrio acabou. Em junho, a Comissão Europeia previa que o déficit público médio na UE chegaria a 7%,.

Diante do risco de bancarrota da Grécia, não restou outra alternativa à Alemanha de Angela Merkel senão aceitar a proposta de criação do FESF. Às pressas, o fundo passou a contar com um total de ? 440 bilhões em garantias de empréstimos, ? 60 bilhões em recursos próprios - originalmente destinados a países não-membros da zona euro - e a ? 250 bilhões disponibilizados pelo FMI. Deste total, ? 110 bilhões foram empregados já em maio no salvamento da Grécia, e outros ? 85 bilhões devem ser liberados a partir de amanhã à Irlanda, evitando a insolvência dos dois países.

É consenso entre analistas econômicos da Europa que, com os atuais recursos, o FESF pode fazer frente ao risco de quebra de países como Portugal e Bélgica. Mas o caixa seria escasso em caso de contágio da crise pela Espanha, a quinta maior economia da UE, três vezes maior que Grécia, Irlanda e Portugal juntos.

"Se falamos de Irlanda e Portugal, não há dúvidas de que o fundo é suficiente. A questão que se impõe é se a Espanha necessitar de auxílio", diz Cinzia Alcidi, economista do Centre for European Policy Studies (CEPS), de Bruxelas: "Não se conhece a extensão do problema na Espanha."

Na sexta-feira, em Bruxelas, já eram feitas estimativas sobre o tamanho do pacote de salvamento de um país como a Espanha, avaliado entre, por cima, entre ? 400 bilhões e ? 500 bilhões. Há, porém, dúvidas sobre a suposta fragilidade dos bancos espanhóis, que resistiram bem à crise dos créditos imobiliários.