Título: Inflação deve cair com a intervenção do governo
Autor: Chiara, Márcia De
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/11/2010, Economia, p. B1

Apesar da aceleração recente dos indicadores gerais de preços e das expectativas de inflação para 2011, com destaque para o IPCA, o cenário mais provável é o de uma redução da taxa de inflação para um patamar mais próximo ao centro da meta, ou seja, entre 4,5% e 5%, um pouco abaixo das atuais previsões. A redução do ritmo deve ocorrer devido à ação esperada do próximo governo para manter a inflação sob controle e à provável atenuação da pressão inflacionária dos alimentos.

Na história recente do País, o interregno entre eleição e posse de um novo presidente tem sido caracterizado pelo aumento da incerteza, seguido de tendência de esvaecimento nos primeiros meses após a posse. No início de 1995, como em 2003, a política econômica teve por foco evitar que desequilíbrios e tensões se desdobrassem em maior pressão inflacionária. Na vigência do instituto da reeleição, o cálculo político induz o novo governo a reforçar os fundamentos da economia e promover avanços institucionais para não comprometer sua possibilidade de reeleição. Os marcadores de sucesso da política econômica, do ponto de vista do público, tendem a ser a inflação e o desemprego.

O novo governo conta com maioria parlamentar, o que deverá facilitar o trâmite de matérias visando reforçar os fundamentos e aumentar a competitividade da economia. Entre as medidas legais que podem ser encetadas está o aprimoramento do sistema de indexação, incluindo a dilação de um para dois anos ou mais do período limite para a indexação de contratos, a substituição de índices gerais por específicos para contratos de serviços de utilidade pública sob concessão ou permissão e o aumento da participação de títulos públicos prefixados. Uma das vantagens de aumentar o grau de prefixação de preços e juros é a de sinalizar mais claramente de que aumentos de inflação implicam em perdas.

Neste ano, a evolução dos índices de inflação esteve associada aos choques de preços de alimentos não industrializados. Mas, em 2011, o mais provável é que a sazonalidade de preços dos alimentos volte ao padrão histórico. Evidentemente, se isso não ocorrer, o BC deve iniciar nova fase de aumento dos juros. Além disso, as autoridades econômicas têm condições de controlar outros fatores de pressão, como o câmbio e os combustíveis. Em síntese, o principal fator em prol da redução da inflação é a evidência histórica de que o controle da inflação em um governo em seu início é requisito fundamental para seu sucesso.

PROF. ASSOCIADO DA FEA-USP, PESQUISADOR DA FIPE E EX-PRESIDENTE DO CORECON-SP