Título: Washington quer só o essencial em mensagens
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/12/2010, Internacional, p. A14

Enquanto governos ainda estudam mudanças estruturais, funcionários improvisam, omitindo nomes e comentários

Embora o Departamento de Estado americano não tenha emitido nenhuma ordem interna a respeito até sexta-feira, os telegramas das embaixadas dos EUA tendem a mudar de estilo por iniciativa dos próprios diplomatas. Valentin Flauraud/Reuters-4/11/2010 Valentin Flauraud/Reuters-4/11/2010 Provocador. Assange, do WikiLeaks: mudanças profundas

O vazamento de 250 mil telegramas pelo site WikiLeaks, na semana passada, provocou atritos diplomáticos entre Washington e seus principais aliados. No entanto, igualmente causou embaraço aos funcionários americanos em serviço no exterior diante de suas fontes de informação. Alguns deles se preparam para, independentemente de orientação oficial, escrever o essencial e ocultar nomes de pessoas nos próximos despachos.

Um diplomata americano, que conversou com o Estado sob condição de anonimato, relatou ter debatido intensamente o episódio com seus colegas de uma embaixada dos EUA ao longo da semana. Segundo ele, muitos dos atuais informantes continuarão a manter contato por conta de seus próprios interesses. Será inevitável, porém, uma mudança no estilo de relato dessas conversas. A menção de nomes de fontes, antes tida como uma forma de reforçar a credibilidade da informação, terá de ser repensada.

"Ninguém aqui se sente envergonhado ou constrangido pelo que faz ou pelo que escreve. Temos orgulho do nosso trabalho e, como qualquer jornalista ou historiador, tentamos obter a melhor história", afirmou. "Não acho que essa exposição na mídia revelará que nossos telegramas são equivocados ou preconceituosos ou mal fundamentados. No entanto, nos sentimos mal em relação aos nossos contatos, que correm o risco de ver seus nomes expostos porque conversaram conosco", completou o diplomata.

O procedimento de ocultar o nome das fontes de informação, usado com frequência na atividade jornalística, já tem sido observado pelo Itamaraty em casos especiais. Diplomatas brasileiros afirmaram que, normalmente, preservam seus contatos ao escreverem seus telegramas. Assim como o Departamento de Estado americano, o Itamaraty tem um sistema eletrônico especial para a troca de mensagens com seus postos no exterior, mas não promove o intercâmbio dos telegramas com outros órgãos do governo federal, como o Departamento de Estado faz com o Departamento de Defesa.

No início da semana passada, a Casa Branca determinou a suspensão do SIPRNet, o sistema de troca de informações entre os dois departamentos. Esse instrumento permitia o acesso de 2,5 milhões de funcionários civis e militares americanos a informações "secretas" do governo e foi apontado como a fonte do vazamento dos telegramas diplomáticos para o WikiLeaks. O sistema era usado por quase todas as embaixadas americanas para fazer chegar a Washington seus relatórios.

Medidas. Em paralelo, o Pentágono e os Departamentos de Justiça e de Estado iniciaram uma investigação para identificar os responsáveis pela entrega dos telegramas ao site - ato considerado crime pelo governo americano.

O Escritório de Administração e Orçamento da Casa Branca determinou aos departamentos (ministérios) e às agências a restrição do acesso de seus funcionários às redes eletrônicas ao nível mínimo para a execução de suas tarefas e proibiu o uso de CDs e pen drives usados para copiar material.